Sazonalidade da agricultura, oferta e a procura desajustadas às necessidades explicam tendência em Bragança.
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O número de desempregados aumentou no distrito de Bragança, principalmente entre junho e agosto. Sofia Freire, licenciada em Direito, foi uma das atingidas. Está sem ocupação desde maio. "Já trabalhei numa leiloeira e numa imobiliária. Agora procuro trabalho na minha área", explicou Sofia, que vive em Bragança.
Parece existir um desajuste entre oferta e procura, segundo a advogada, que só encontra anúncios de emprego fora do distrito. "Cá, só pedem para restaurantes ou supermercados, mas no meu caso dizem que tenho habilitações a mais. Outras vezes tenho a menos. Parece que nunca somos o suficiente, quando se procura trabalho", confessou.
Aos 37 anos, Sofia põe de parte a possibilidade de abrir um escritório de advocacia. "Para começar, teria de ter um suporte financeiro, para pagar as despesas, renda, quotas da Ordem dos Advogados e a Segurança Social. São muitos encargos e não é garantido que no fim do mês tivesse dinheiro", afirmou.
Do lado dos autarcas transmontanos, a explicação para o aumento do desemprego é explicada pela sazonalidade do trabalho precário na agricultura, dentro e fora do país. "Julgo que está relacionado com a movimentação de pessoas no território, fruto da sazonalidade na agricultura. As pessoas são recrutadas para trabalhar na agricultura noutras regiões e no estrangeiro. Depois regressam e inscrevem-se no centro de emprego", apontou o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias.
Os dados de agosto do IEFP revelam que 3712 estão sem trabalho no distrito, o que representa um aumento de 537 face a igual mês de 2021.
No concelho de Bragança, entre junho e agosto, o número de desempregados aumentou 27%. "Os que foram para o litoral e para o estrangeiro em busca de trabalho, com contratos temporários, regressam no verão", acrescentou o autarca.
No final da época estival, aumenta o trabalho na agricultura transmontana, na apanha da amêndoa, ou nas vindimas e, em pouco mais de um mês, inicia-se a campanha da castanha, atividades que envolvem muita mão de obra, o que atrai trabalhadores.
Também em Vinhais, registou-se no verão uma subida de 39% no número de desempregados. Para o presidente da Câmara, Luís Fernandes, o aumento explica-se em função do trabalho na agricultura. Ainda assim, o autarca, salienta que os dados são paradoxais, porque há muitas queixas de empresários que não conseguem contratar. "A restauração e a construção civil têm falta de mão de obra e não a arranjam", explicou Luís Fernandes, para quem "há qualquer coisa que não bate certo".
Outra explicação prende-se com a formação profissional. "Regressam à terra e inscrevem-se como desempregados, para depois poderem frequentar cursos de formação profissional", afirmou o autarca de Vinhais, frisando que não vê outras razões. "Vão tendo umas atividades paralelas na agricultura e fazem os tais cursos", acrescentou.
Em Vimioso, um dos concelhos transmontanos menos populosos, o desemprego também cresceu. Mais 45 pessoas estão sem trabalho desde junho último, embora o número até tenha baixado 36% entre agosto de 2021 e igual mês de 2022. O presidente da Câmara Municipal, Jorge Fidalgo, escusou-se a comentar a estatística, garantindo que no concelho "as empresas queixam-se da falta de trabalhadores".