Aumento do turismo e falta de mão de obra em diversos setores não contribuiu, como há um ano, para a sazonalidade do trabalho.
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No final de agosto deste ano, o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) contava com mais desempregados inscritos em 100 municípios do Norte e do Centro, face ao final do mês de junho. A maioria destes concelhos terá ignorado a crise de mão de obra que assola o país, uma vez que nem no pico do verão conseguiu empregar mais de 157 mil pessoas desempregadas em agosto, ao contrário da tendência de diminuição no mesmo período do ano passado.
Os economistas admitem que aqueles valores podem indiciar o começo da recessão em regiões onde o tecido económico é menos dependente do turismo. Só no Algarve houve menos desempregados em todos os concelhos, tendência que se inverte, historicamente, no outono.
tecido empresarial
Entre junho e agosto deste ano - ao contrário do que tinha acontecido no mesmo período do ano passado, em que todas as regiões registaram menos desemprego -, o Algarve foi a exceção. No espaço de dois meses deste verão, os desempregados aumentaram 3% no Norte (-1% em 2021), no Centro (-1% há um ano) e no Alentejo (-5% no ano passado), tendo diminuído apenas 2% em Lisboa e Vale do Tejo (-1% em 2021) e 17% no Algarve (-18% no homólogo). Esta perda de capacidade de criação de emprego sazonal nas regiões pode traduzir, no entender dos especialistas, o começo da crise que se esperava para o inverno.
"Creio que a questão principal reside na estrutura produtiva de cada região e no peso que o turismo aí tem", analisou o economista José Reis. "O facto de o Norte e o Centro terem uma estrutura mais diversificada, com menor peso turístico e mais indústria, leva a que sejam menos beneficiadas pelo impacto sazonal e reflitam outros problemas, próprios de outras atividades", acrescentou o professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
turistas estrangeiros
Os empresários do turismo de todo o país passaram boa parte do verão a lamentar a falta de mão de obra, contudo as listas de desempregados ainda aumentaram. "É possível que quem está inscrito no desemprego não tenha as características necessárias para o turismo, em especial no Norte e no Centro", apontou João Cerejeira.
Para o economista e professor de Economia do Trabalho na Universidade do Minho, também é "possível que o abrandamento da procura e a estagnação do crescimento que já tinham sido identificados no 2.º trimestre tenham originado contenção nas regiões Norte e Centro, onde o salário médio é inferior ao de Lisboa e Vale do Tejo e, por conseguinte, também é mais afetado pela inflação".
Isso significa, recordou Cerejeira, que "a subida do cabaz de alimentação penaliza mais os trabalhadores a Norte" e será "normal que as famílias tenham começado a conter gastos". Além disso, acrescentou, "há menos turismo estrangeiro nestas regiões do que no Algarve, portanto estão mais expostas aos problemas dos residentes".
No final de agosto, o país contava quase menos 78 mil desempregados que no mesmo mês do ano passado. Em outubro, é esperado um aumento do desemprego.
À lupa
Mesa mais cara
Entre os itens que compõem o cabaz sobre o qual o INE calcula a inflação, estão os produtos alimentares não transformados (frescos), cujos aumentos são maiores a Norte (7% nos 12 meses terminados em agosto) e no Centro (6,84% de variação média nos 12 meses até agosto) do que na Área Metropolitana de Lisboa (6,26%).
Salários mais baixos
O ganho médio mensal varia entre as regiões do país, sendo 32,4% mais elevado em Lisboa face ao Norte. Quanto menos ganham as famílias, maior é o peso das despesas com alimentação e maior é o impacto da inflação no rendimento disponível. O índice de preços no consumidor chegou a 9,1% em julho e a 9% em agosto a nível nacional.