Não o conseguem escoar devido à diminuição da venda do queijo serra da Estrela. Pedem apoio ao Estado porque não têm outro rendimento.
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Os pastores estão a viver com a corda ao pescoço. A venda de queijo de ovelha reduziu drasticamente, obrigando as queijarias de média e pequena dimensão (a grande maioria do país) a reduzir a produção de queijo e, com isso, afetando centenas de pastores que fazem da venda de leite a única fonte de rendimento.
Na zona da Serra da Estrela, a produção dos queijos DOP (Denominação de Origem Protegida) está praticamente suspensa. Alguns dos pastores estão a lançar para a rua o leite das ordenhas diárias. É o caso de Ana Isabel Silva, de Oliveira do Hospital, que ontem despejou perto de 500 litros de leite que estava guardado em dois tanques apropriados. "O nosso fornecedor suspendeu a produção e o que fazemos com o leite? Guardamo-lo até quando? Os contentores ficam cheios em dois dias", explica esta pastora que com o marido gere um rebanho de 150 ovelhas.
"Começaram por descer o preço da compra do leite, que estava em 1,20 euros e rapidamente chegou aos 70 cêntimos, até que nos informaram que não queriam mais leite". A notícia caiu que nem uma bomba em casa. "Tenho dois filhos menores e uma mais velha que acaba de ficar desempregada. Eu e eu meu marido só vivemos disto. O que fazemos agora, do que vamos viver?", pergunta com voz embargada. Ana Isabel tem conhecimento "de outros pastores em igual situação. Há quem já esteja a vender rebanhos, mas ninguém os quer. Como vamos comprar feno e ração se não temos dinheiro da venda do leite?", acrescenta Ana, com pais e sogros também pastores a viver a mesma aflição.
Feiras eram sustento
O calendário das feiras do setor está suspenso. Na Queijaria Lameiras, também em Oliveira do Hospital, boa parte da produção era vendida nos certames. O consumo de queijo reduziu. Produzem-se agora uns 20 queijos por dia, mas o normal seria 30 a 40. "É quase tudo para armazém e qualquer dia temos de parar, porque não se vende", lamenta José Lameiras, o proprietário da queijaria. "O requeijão vendia-se muito bem por esta altura do ano, mas nem isso está a ter saída", lamenta.
"Estamos a viver uma catástrofe que atinge dezenas e dezenas de famílias que estão a ficar sem sustento imediato", alerta Rui Costa, presidente da Cooperativa dos Agricultores de Mangualde (COAPE), que conta com 50 pastores "que estão a perder clientes porque as queijarias estão a suspender a laboração", revela.
associação alerta ministra
A Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Serra da Estrela (ANCOSE) criou um espaço de armazenamento de leite para os seus associados (quase 3000 só no setor da produção), mas não durará mais mais de uma semana. A direção está a preparar uma carta de alerta de ajuda ao setor dirigida à ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque. "Propomos que as ajudas agro-pastoris, que são pagas em outubro, sejam antecipadas para abril, caso contrário é a morte deste setor e sem ele as queijarias não funcionam", alerta Manuel Marques, presidente da ANCOSE.