O economista Nouriel Roubini considerou na quarta-feira, em artigo no sítio do "Financial Times", que se está a criar "um mito" em torno da dívida grega, segundo o qual os credores privados vão ter perdas significativas, ao contrário dos públicos.
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"A realidade é que os credores privados conseguiram um acordo muito gentil, ao passo que as perdas atuais e futuras foram transferidas para os credores oficiais", contrapõe, em artigo intitulado "Os credores privados da Grécia são os únicos com sorte".
O pretendido perdão de 110.000 milhões de euros pelos credores privados (53,5 por cento dos 206.000 milhões que detêm) é condição para um crédito oficial de 130.000 milhões de euros, a conceder pela Zona Euro e pelo Fundo Monetário Internacional.
Parte deste aumento da dívida pública grega será para apoiar credores privados, designadamente para recapitalizar bancos, que permanecerão propriedade privada.
Por junto, Roubini entende que "os credores privados da Grécia devem parar de se queixar", acrescentando que "a realidade é que muitos dos ganhos nos bons tempos -- e até ao PSI [sigla em Inglês para envolvimento do sector privado] -- foram privatizados, enquanto muitas das perdas foram agora socializadas".
O processo de reestruturação da dívida pública grega tem hoje um momento decisivo, às 20:00 TMG (e de Lisboa). Até lá, está em curso um processo de manifestação de adesões dos credores privados ao projeto de troca de obrigações.
Uma estimativa feita pela AFP às 18:00 TMG de hoje aponta para uma percentagem de adesão de credores privados, que representa cerca de 55 por cento do montante total pretendido.
A maior parte respeita a instituições representadas pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF), que agrega os principais bancos do mundo. Ao fim da tarde, o IIF indicou que tinha recolhido intenções de participação na operação no montante de 84.000 milhões de euros (40,8 por cento do total almejado).
O objetivo é reunir o acordo de credores representantes de 75 por cento dos créditos privados, sem o qual a operação de troca de títulos será anulada, expondo o país à bancarrota em 20 de março, quando terá de reembolsar 14.500 milhões de euros.
Se for concretizado, o acordo permite que os credores privados troquem os títulos de dívida que têm por outros, de valor facial reduzido em 53,5 por cento e com prazos de pagamento aumentados e taxas de juro reduzidas. No total, a perda do investimento que fizeram ascende a 75 por cento.
O governo grego contrapõe que, apesar das perdas, a troca é boa para os investidores privados, uma vez que a alternativa era perderem tudo.
O cenário de eventual "incumprimento desordenado" da Grécia foi considerado pelo IIF, que estimou, em estudo revelado na terça-feira, o impacto na Zona Euro em um bilião [milhão de milhões] de euros.