Mais de 200 voos cancelados em três dias. Portway fala em greve "irresponsável"
Os três dias de greve dos trabalhadores da Portway causou o cancelamento de, pelo menos, 230 voos nos aeroportos de Lisboa e Porto, revelou, este domingo, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC), prevendo novas ações de luta.
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"Teremos outras ações, embora nestas ocasiões, o melhor é absorvermos tudo o que se passou, fazer um balanço de tudo e ver o que é que vamos fazer a partir do dia de amanhã [segunda-feira]", afirmou Pedro Figueiredo, dirigente do SINTAC, em declarações aos jornalistas, pelas 16 horas, no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.
Relativamente ao balanço dos três dias de greve dos trabalhadores da Portway, que teve início às 0 horas de sexta-feira e se mantém até às 24 horas de hoje, o dirigente sindical disse que, no total, há registo do cancelamento de "230 voos, pelo menos", nos aeroportos de Lisboa e Porto.
Neste terceiro e último dia de greve, segundo dados até às 13:00, foram já cancelados "cerca de 40 voos" em Lisboa e "cerca de 20 voos" no Porto, indicou Pedro Figueiredo, acrescentando que no aeroporto de Faro houve "um ligeiro aumento" da adesão por parte de trabalhadores, mas sem registo de cancelamentos.
De acordo com o SINTAC, o total de voos cancelados hoje pode chegar a cerca de 70 em Lisboa e de 40 no Porto, com o setor da carga "completamente parado" nestes dois aeroportos, enquanto em Faro e no Funchal se preveem apenas "atrasos significativos". "É evidente que a greve já teve o seu impacto e não queremos dizer com isto que temos prazer em causar constrangimentos. Aliás, nisso, a empresa esteve muito bem porque conseguiu organizar os aeroportos e conseguiu, efetivamente, canalizar verbas para poder-se organizar desta forma. O mesmo gostaríamos que fosse, a mesma atitude, para com os trabalhadores", afirmou Pedro Figueiredo, sem avançar com números relativos à adesão à greve.
Questionado sobre futuras ações de protesto, o dirigente sindical disse que há várias formas de luta possíveis, nomeadamente a unificação de todos os sindicatos, novas greves e processos nos tribunais, ressalvando que o SINTAC não apoia "sindicalismo de se fazer em tribunal" porque o importante é ter "soluções para o momento".
O dirigente do SINTAC referiu ainda que tem "provas das mais incríveis" do pedido da Portway à ANA - Aeroportos de Portugal para recrutamento de trabalhadores de outras companhias e empresas externas, nomeadamente da Groundforce e da Ryanair, para fazer serviços no âmbito desta greve.
Foi "um ato de várias pessoas, infelizmente, e é um desrespeito até pelos trabalhadores, portanto quem compactua com isso está a incorrer numa ilegalidade", frisou, acrescentando que a Ryanair e a Groundforce "utilizaram os seus equipamentos para fazer saídas aos aviões".
Sobre a resposta da Portway às reivindicações dos trabalhadores, Pedro Figueiredo considerou que "a empresa não quer conversar, não quer chegar a consensos, não quer, efetivamente, melhorar as condições de vida dos trabalhadores, só quer, pelos vistos, ou só estará interessada, pelos vistos, em melhorar as condições dos passageiros e melhorar os preços que oferece aos seus clientes".
O SINTAC recordou ainda que os aeroportos portugueses foram comprados pela multimilionária Vinci, que "ainda há semanas apresentou lucros de 1,9 mil milhões de euros", acusando o grupo francês de querer "destruir esta classe social portuguesa deste setor da aviação" e reforçando que o sindicato continuará a manter a "devida oposição".
"Ato irresponsável"
A Portway reconhece que o terceiro dia de greve do sindicato dos trabalhadores de aviação, este domingo, provocará 69 cancelamentos de voos, em Lisboa e Porto, e classifica a paralisação como "um ato irresponsável".
A empresa de assistência em terra nos aeroportos portugueses disse que a adesão à greve do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC) foi de apenas 14%, mas admitiu que hoje a paralisação vai obrigar ao cancelamento de 33 voos em Lisboa e 36 no Porto, num total de 196 cancelamentos no período dos três dias de greve.
"A Portway reitera que esta foi uma greve sem razão e um ato irresponsável, que prejudica a recuperação financeira da empresa e a capacidade de traduzir essa recuperação em melhores condições para os trabalhadores", disse a Portway, em comunicado.
A empresa lamenta os prejuízos para os passageiros, para as companhias aéreas e para a própria Portway, dizendo que sai desta situação com "uma posição comercial e económica mais fragilizada".
No comunicado, a Portway rejeitou os motivos alegados para a convocação da greve pelo SINTAC, garantindo que a empresa "cumpre com toda a legislação e regulamentação aplicáveis", incluindo os acordos de empresa em vigor e os direitos laborais", lembrando que fez atualizações remuneratórias de 11% desde 2019 e pagando feriados com um acréscimo de 150% face ao valor/hora.
Rejeitando igualmente as críticas sindicais de falta de investimento, a Portway diz que tem investido anualmente cerca de dois milhões de euros em equipamentos e instalações, com dois objetivos: "melhorar as condições dos trabalhadores e a 'performance' ambiental da empresa".
A empresa denunciou ainda a falta de disponibilidade para o diálogo por parte dos trabalhadores e dos seus representantes, nomeadamente do SINTAC.
"Ficou demonstrada, mais uma vez, a ausência de disponibilidade deste sindicato para uma negociação equilibrada, face ao contexto económico da empresa, no sentido de garantir uma partilha justa do valor com os trabalhadores e assegurar a viabilidade económica da empresa e dos empregos a longo prazo", pode ler-se no comunicado hoje divulgado.
A Portway garante, por sua vez, que continuará a "promover um diálogo objetivo e realista com todos os parceiros disponíveis" para "evitar as dificuldades que todo o setor enfrenta".