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Acredita que o défice vai ser cumprido, mas não param as insinuações de que a seguir à Irlanda também nós teremos de recorrer ao fundo europeu.
Os mercados não estão a diferenciar os países. A forma como estão a lidar com as economias da Zona Euro, em particular com aquilo que agora é comum designar-se como as economia periféricas - caso da Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha -, é, de facto, uma situação de contágio e de instabilidade. A situação portuguesa não é tão séria como a irlandesa, quer pela magnitude do desequilíbrio orçamental, quer até pelos problemas do sistema financeiro com que a Irlanda se defronta. Mas os mercados parecem não querer saber disso.
Mas, tendo precisamente em conta a reacção dos mercados, acha que essa decisão ainda está nas nossas mãos?
É sempre uma decisão que compete aos países. É de natureza política.
Mas pode ser-lhes "imposto".
Imposto, imposto não pode, porque os países são soberanos. É uma decisão política. E da nossa parte tem sido claro que aquilo em que estamos apostados é em assegurar condições para que Portugal continue a financiar-se nos mercados, por forma a assegurar o funcionamento das administrações públicas e a conseguir também a regularização dos mecanismos de financiamento para o sector privado, através do sector financeiro.
As posições da chanceler alemã Angela Merkel também não têm ajudado.
Com certeza que algumas posições alemãs não têm de facto ajudado neste esforço de acalmia dos mercados. Algumas propostas alemãs deixaram os mercados mais nervosos com a incerteza acrescida perante um cenário em que seriam chamados a suportar custos nos processos de restruturação das dívidas soberanas. Como a comunicação desta matéria não foi muito clara, geraram-se incertezas e dúvidas, que acabaram por impulsionar esse nervosismo.
Mas sente-se a ser empurrado pela Alemanha para o fundo europeu e para o FMI?
Não quero referir este ou aquele país em particular, muito menos a Alemanha. Mas há entre os nossos parceiros comunitários quem ache que a melhor forma de preservar a estabilidade do euro é empurrar e forçar os países que neste momento têm estado mais debaixo dos holofotes para essa ajuda. Vêem aí a melhor forma de se protegerem e de porem um tampão nesta situação. Mas não é essa a visão nem a opção política dos países envolvidos.
Mas a própria Europa está a dar o flanco.
A Europa também tem que ser capaz de dar uma resposta cabal e clara de que consegue conter esta situação. Não são só os países que estão na berlinda, é a Europa no seu conjunto.
O euro.
A Zona Euro. E isto acontece porque o euro e a governação do euro não dispõem de mecanismos de reacção ajustados para estas situações. É nisso que estamos a trabalhar. Mas os mercados sentiram que havia aqui uma fragilidade e estão a explorá-la, claramente.