Energias renováveis responderam por 55,7% da eletricidade gerada nos primeiros sete meses do ano. Capacidade eólica cresceu 19,3% desde 2013, mas a fotovoltaica aumentou 644%.
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A eletricidade gerada com fontes renováveis como o vento e o sol deverá ultrapassar as metas para Portugal, podendo chegar a três vezes mais do que a atual capacidade instalada eólica e superar em mais de 50% a meta para o solar fotovoltaico em 2030. A convicção é do presidente da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), Pedro Amaral Jorge, ouvido pelo JN a propósito do desempenho do setor em pleno ano hidrológico muito negativo, que obriga a recorrer mais ao gás natural e a importações.
Numa análise ao consumo de eletricidade nos primeiros sete meses do ano, comparado com os três anos anteriores, a APREN conclui que a origem hídrica foi de apenas 2,9 gigawatts-hora (GWh), muito abaixo dos 8,7 GWh em igual período de 2021 e inferior aos 4,1 GWh de 2019. Com gás natural foram gerados 9,6 GWh e o saldo importador atingiu 1,2 GWh. Mas a produção em parques eólicos manteve-se nos 7,2 GWh e a solar fotovoltaica segue a trajetória ascendente, com 1,5 GWh.
Solar sempre a crescer
Dos 24 664 GWh de eletricidade produzidos até julho, 55,7% provêm de fontes renováveis, sobretudo eólica (29%) e solar (6,3%), embora o gás natural tenha um forte peso (39,4%) devido à baixa contribuição das barragens hidroelétricas, com apenas 12%.
Segundo o boletim de julho "Renováveis", da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), a produção anual fotovoltaica em 2022 (ano móvel, de agosto de 2021 a julho passado) foi de 2889 GWh, em subida acelerada.
A potência instalada dessa tecnologia atinge 2224 megawatts (MW), ou seja, 13,7% do total da potência renovável, abaixo da eólica (34,8%) e da hídrica (45%). Mas, enquanto a capacidade eólica cresceu apenas 19,3% desde 2013, a fotovoltaica aumentou em 644%.
Com a crise das dívidas soberanas, os empréstimos para investimentos na eólica tornaram-se arriscados e a intervenção da troika (FMI, BCE e Comissão Europeia) interditou os auxílios de Estado até 2016, explica o presidente da APREN. O financiamento então libertado foi para concluir projetos. Pedro Amaral Jorge crê que a eólica vai crescer para três vezes mais a potência atual e passar a meta dos 9,3 GW fixada para 2030. Só o novo projeto de aerogeradores offshore (no mar) anunciado pelo Governo em junho representa um acréscimo de 10 GW.
Quanto ao fotovoltaico, o especialista estima que ultrapasse a meta de 9 GW de 2030, atingindo 13 a 14 GW. O aumento deve-se ao regresso de apoios aos investimentos e com a libertação de licenças pela DGEG para as grandes centrais e a abertura de leilões. Mas a queda dos custos com a produção elétrica com origem solar ajudou muito.
Aumenta o autoconsumo
"Em onze anos, o custo de produção por megawatt-hora (MWh) passou de 350 a 400 euros para 25 ou 30 euros por MWh", nota, o que teve um impacto muito grande na economia e nos orçamentos nomeadamente das empresas.
Isso explica o crescimento da potência fotovoltaica instalada descentralizada, designadamente nas coberturas de instalações e de logradouros de unidades industriais, armazéns e até hospitais - as unidades de produção para autoconsumo (UPAC) e unidades de pequena produção (UPP).
Entre 2015 e 2022, a capacidade total em UPAC passou de 2852 kilowatt (kW) para 694 737 kW, enquanto a potência em UPP subiu de 8568 kW em 2016 para 54 965 kW em 2022. Aparentemente a potência instalada em mini e microgeração diminuiu sensivelmente para 168 731 kW. Parece dever-se ao facto de muitas instalações se destinarem exclusivamente a consumo próprio e não a entregar à rede, não contando para as estatísticas.
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Da eletricidade produzida até julho provém de fontes fósseis (30,1% no período homólogo de 2021) e 55,7% de renováveis (66,7% no ano passado).
Emisssões de gases
Nesse período, o sistema eletroprodutor nacional emitiu para a atmosfera 3,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2eq). Mas o setor da eletricidade evitou a emissão de 4,5 milhões de toneladas de gases com efeito de estufa e a importação de 2192 milhões de euros em gás natural.