O preço das casas em cidades como Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Maia ou Gondomar está a subir ao dobro do ritmo do Porto. Num ano, um apartamento típico de Matosinhos ficou mais caro 40 mil euros e na Área Metropolitana de Lisboa o fenómeno é idêntico: o preço cresce mais nas cidades vizinhas de Lisboa do que na capital. Isto acontece porque as famílias portuguesas estão a procurar mais casas na periferia, onde estas ainda estão mais baratas. Mas a distância encurta-se.
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Os dados do valor mediano das vendas divulgados ontem pelo INE demonstram que o preço por m2 no Porto era de 2603 euros no terceiro trimestre do ano passado, o que representa uma subida de 12% face ao mesmo período de 2021. Ao lado, em Vila Nova de Gaia, o preço é mais baixo (1699 euros por m2), mas o crescimento foi de 24%, o dobro do registado no Porto. Na Maia subiu 26% e em Gondomar aumentou 18%. Na Área Metropolitana de Lisboa repete-se o cenário. O preço do m2 na capital é de 3882 euros e o crescimento foi de 8% num ano. Embora os preços das cidades vizinhas continuem abaixo de Lisboa, crescem ao dobro do ritmo. São os casos de Oeiras ou, no outro lado do Tejo, Almada, Barreiro, Moita e Montijo.
Os aumentos verificados pelo INE entre 2021 e 2022 traduzem-se em dezenas de milhares de euros de aumento no preço de uma habitação simples. Por exemplo, um apartamento com 100 m2 de área em Matosinhos custa mais 40 mil euros do que há um ano. Para o mesmo apartamento, mas no Porto, a subida foi de 28 mil euros e em Lisboa de 30 mil.
procura aumentou
O aumento do preço das casas verificado nas periferias de Lisboa e Porto resulta do efeito de contágio da inflação imobiliária. Ou seja, "como as famílias não têm acesso a habitação nos centros mais procurados, acabam por procurar as zonas contíguas e o aumento da procura faz aumentar o preço", explica ao JN Hugo Santos Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Promotores e de Investidores Imobiliários (APPII). Além disso, os licenciamentos nos centros das cidades "são um verdadeiro caos", considera o presidente da APPII, e "as pessoas fogem para onde o licenciamento é menos burocrático".
A tendência de subida de preços foi verificada pelo INE em 24 das 25 sub-regiões de Portugal. A exceção é a sub-região de Viseu Dão Lafões. Este aumento de preços transversal ao território nacional "tem tendência a continuar" devido "à enorme falta de oferta de casas no mercado, contrabalançado por uma grande procura, nacional e estrangeira", prevê Hugo Santos Ferreira. O dirigente associativo acrescenta que "estamos a construir cada vez menos" e a prova disso é que "apenas 11% das transações de 2022 foram de fogos novos", revela.
Stock de casas em mínimos
Os dados do portal estatístico Confidencial Imobiliário corroboram esta versão. O ano de 2022 fechou com um stock de 47.200 casas à venda em Portugal, o que é o valor mais baixo dos últimos 15 anos e dá seguimento a um período de dois anos seguidos com o stock de casas a diminuir. Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, adianta que a redução da oferta verifica-se "tanto na habitação nova como na usada".
O aumento do stock de casas disponíveis para venda não passa apenas pela construção. Paulo Caiado, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária (Apemip), lembra que há, segundo os Censos de 2021, 720 mil casas devolutas em Portugal que podiam ser reabilitadas: "É um número impressionante. Faz pouco sentido edificar-se de raiz quando temos área edificada que está devoluta, não nos podemos esquecer disto".