O presidente do BPI, Fernando Ulrich, garantiu esta terça-feira de manhã no Parlamento, que em setembro de 2013 avisou a "troika" dos problemas do BES. Mandaram-no calar.
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O presidente do BPI, Fernando Ulrich, ouvido na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, esta terça-feira de manhã, descreveu um excerto de uma reunião que teve com a "troika", no âmbito do acompanhamento do sistema financeiro português, e onde garante que falou "com clareza e insistência" dos problemas do BES e do Banco Espírito Santo.
"A pessoa da troika que conduzia à reunião queria que eu me calasse porque eu não estava ali para falar de outros bancos, estava ali para falar do BPI", recorda Fernando Ulrich. "Eu respondi: se eu não posso dizer o que quero dizer sobre o sistema financeiro, levanto-me já e vou e embora", acrescentou o presidente do BPI, sustentando que continuou "a dizer o que achava" que tinha que dizer.
Sobre o encontro com o ex-ministro Vítor Gaspar, que terá sido em maio ou junho de 2013, em que revelou as suas preocupações, garante que surtiu efeito. "O dr. Vítor Gaspar atuou logo e em 24 horas fui contactado por um alto funcionário do Banco de Portugal, que veio ter comigo ao BPI e expliquei-lhe em detalhe as minhas preocupações. A partir daí não sei o que aconteceu. Ou seja, todas as partes envolvidas fizeram o que tinham de fazer. Eu falei com o ministro, o ministro falou com o Banco de Portugal que veio depois falar comigo", disse.
Hoje, para Ulrich, é muito claro que deveria ter sido "muito mais cedo" a intervenção no BES. "No final de 2013 o destino estava traçado, penso que já não havia soluções boas e que todos teriam que perder alguma coisa", disse, na sua intervenção na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES, onde insistiu que "a principal responsabilidade era de quem geria o BES e o GES".
Recorde-se que nas respostas escritas à comissão, Vítor Gaspar havia dito que só tomou conhecimento das dificuldades financeiras do GES no final de 2013.
"Ouvi falar de dificuldades financeiras idiossincráticas no GES no final de 2013. Em termos concretos, soube, mais tarde, das implicações da exposição do BES [Banco Espírito Santo] ao GES pela imprensa especializada internacional", lê-se nas respostas do antigo governante.
No arranque da sua audição, Ulrich declarou ser amigo desde há algumas gerações da família Espírito Santo, mas realçou que ninguém "pode estar em torres de Marfim".
"Todos temos de prestar contas", sublinhou, definindo como "muito importante" o trabalho que está a ser desenvolvido na comissão parlamentar de inquérito.
A comissão de inquérito teve a primeira audição a 17 de novembro e tinha inicialmente um prazo total de 120 dias, até 19 de fevereiro, mas foi prolongado por mais 60 dias.
Os trabalhos dos parlamentares têm por objetivo "apurar as práticas da anterior gestão do BES, o papel dos auditores externos e as relações entre o BES e o conjunto de entidades integrantes do universo do GES, designadamente os métodos e veículos utilizados pelo BES para financiar essas entidades".