Do Porto a Matosinhos, a falta de clientes é a queixa mais comum e o estado de emergência não irá ajudar.
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"Não compreendo a razão destas medidas. Mais valia dizerem para fecharmos as portas. Mas para isso teriam de dar apoios. Optaram pelo confinamento. Porquê? O vírus só existe à noite e aos fins de semana?", afirma revoltado Tito Rodrigues, com dois restaurantes na zona das marisqueiras em Matosinhos.
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O recolher obrigatório aos dias de semana "caiu como uma bomba" no setor da restauração e a maior parte dos empresários estão em "estado de choque". Falam na necessidade de apoios. "Eu compreendo que não é fácil e que a situação da pandemia é grave, mas ao menos que apoiem o setor. Tem de haver mais incentivos, no IVA ou na Segurança Social", acrescenta o responsável pelo Tito 1 e 2, onde as quebras atingem os 90% e trabalham 27 pessoas. A faturação diária anda nos 300 euros.
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Não muito longe dali, Agostinho Carvalho da Silva é o rosto da desolação. Os tempos áureos do restaurante O Rei da Sardinha terminaram ao fim de 39 anos quando surgiu a pandemia. Dos oito funcionários restam três. "Muito provavelmente vamos ter de dispensar mais um e fico à frente da casa com a minha mulher e apenas dois empregados", afirma de voz embargada e olhar embaciado. Também aqui trabalha-se a 10%. "Os meses de verão nem foram maus, mas a partir de outubro tem sido péssimo", explica.
Baixa da Invicta
Também na Baixa portuense vão distantes os dias em que as ruas estavam repletas de visitantes, nacionais e estrangeiros, e faziam-se filas para entrar nos restaurantes. Na cervejaria Vaccarum, na Rua de Fernandes Tomás, os 160 lugares sentados "rodavam três vezes por refeição". De acordo com o gerente, Pedro Marques, as quebras rondam os 95% e, com as regras decretadas pelos Governo, "nem vale a pena abrir".
Na Conga, a casa de bifanas aberta desde 1976 no centro do Porto, já não há filas à porta para entrar. "Isto é um desespero! Pelo menos que paguem o lay-off!", pede o gerente Paulo Ribeiro. O restaurante tem três pisos mas dificilmente enche um terço dos lugares. As quebras na receita são de 60% e, dos 30 trabalhadores que tinha, metade foram despedidos.
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No Ginjal, famoso pelas tripas à moda do Porto, os dias são sombrios. Susana Silva está à porta, mas a cidade mostra-se deserta. "Estamos a trabalhar a 5%. Não estamos a ter clientela, nem mesmo durante os almoços porque muita gente está em teletrabalho", explica. Com dois pisos e um terraço, o Ginjal tem três funcionários.