Valor disponibilizado superou os 105 milhões de euros em fevereiro e taxa média foi de 8,48%. Também se pede mais dinheiro para carro novo e educação, mas menos para ir de férias.
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Os bancos e outras instituições de crédito disponibilizaram, em fevereiro, mais de 105 milhões de euros em cartões de crédito e facilidades de descoberto. O valor representa um aumento de 8% face ao mesmo mês do ano passado, isto apesar de o dinheiro estar mais caro e de não haver previsão de estagnação das taxas de juro.
Em fevereiro, segundo o Banco de Portugal (BdP), foram concedidos 613 milhões de euros em crédito pessoal e, destes, 105,3 milhões foram para cartões e produtos semelhantes.
Este tipo de empréstimos é dos que estão a aumentar mais em Portugal. Houve cerca de 70 mil portugueses a quem foi disponibilizado um "plafond", o que se traduz em 2000 novos créditos face ao mês homólogo. De referir que os valores do BdP se referem ao montante disponibilizado, que pode ser gasto ou não.
Em fevereiro, indica o BdP, a taxa de juro média do crédito ao consumo atingiu os 8,48%. É o valor mais alto desde a crise de 2008 e implica, por exemplo, pagar 2800 euros por um empréstimo de 2500 euros, contraído para dois anos e TAEG de 11,5%. Há um ano, a taxa de juro média do crédito ao consumo estava em 7,71%.
MAIS CARROS, MENOS FÉRIAS
O montante contratado pelos portugueses em crédito pessoal variou consoante o tipo de produto. Há um aumento homólogo de 1,8% nos empréstimos para Saúde e Educação, mas registou-se uma queda de 7,4% nos "outros créditos pessoais" onde se incluem as férias, eletrodomésticos e outros objetos.
Os contratos de locação financeira ou de aluguer de longa duração de automóveis também estão em queda, com menos 70% nos carros novos e menos 85% nos usados. Esta diminuição "é fruto essencialmente dos limites das TAEG máximas que levaram a um estrangulamento deste tipo de produto de financiamento automóvel", diz a Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC).
Em sentido inverso, os portugueses estão a contratar maiores montantes de crédito para comprar carro. O número de novos contratos de crédito automóvel até se manteve estável. Contudo, o valor que lhes foi emprestado aumentou 16,8% no crédito para carros novos e 1,8% para usados.
Significa que o número de portugueses a comprar carro a crédito é semelhante, mas o custo dos automóveis é maior. "Também é o reflexo daqueles carros que não chegaram durante o ano passado", explica Duarte Gomes Pereira, secretário-geral da ASFAC.
aceitação "é reduzida"
Esta instituição tem, entre os seus associados, as maiores empresas de crédito, como a Cofidis ou a Wizink. Segundo o secretário-geral, "é errado pensar-se que o crédito pessoal é um crédito fácil". Isto porque a taxa de aceitação "é reduzida" pois a solvabilidade do cliente é analisada de forma "cuidada e cautelosa".
A confirmá-lo está a indicação do BdP de que mais de 90% dos créditos são atribuídos com uma taxa de esforço inferior a 50%.
4.º trimestre
Na Europa não aumenta tanto como cá
Portugal foi o país da Europa onde o montante de crédito pessoal disponibilizado mais cresceu, proporcionalmente, entre outubro e dezembro do ano passado. O crescimento, face aos mesmos meses de 2021, foi de 17,1%, acima da Espanha (16,2%) e da Noruega (15,9%), que ocupam o segundo e terceiro lugar, de acordo com os dados divulgados pela ASFAC. O crédito automóvel e os cartões estão na base da subida.
Números
Aumento dos juros no último ano
A taxa de juro média do crédito pessoal cifrou-se em 8,48% em fevereiro deste ano, o que é mais 0,77% do que os 7,71% com que, em média, os portugueses rubricavam novos contratos de crédito pessoal em 2021.
Incumprimento no crédito pessoal
A percentagem de incumprimento do crédito pessoal foi de 3,4% no ano passado. Está em trajetória descendente, apesar de ser neste tipo de crédito que há maior incumprimento.