Agente de viagens perdeu acesso a conta de Ronaldo e começou a "empurrar" faturas para a frente.
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A agente de viagens que, durante três anos, burlou o futebolista Cristiano Ronaldo, além do "superagente" Jorge Mendes e de jogadores como Nani e Manuel Fernandes, debitando das suas contas deslocações fictícias, só foi descoberta depois de o cartão de crédito de CR7 expirar. A partir daqui, Maria Silva, que geria um setor da Geostar apenas destinado aos clientes VIP da Gestifute, de Jorge Mendes, ainda conseguiu disfarçar os buracos de tesouraria durante alguns meses, mas acabou por ser apanhada pela empresa. Daí nasceu o processo em que, como noticiou o JN no domingo, aquela mulher de Vila Nova de Gaia veio a ser condenada a quatro anos de cadeia, com pena suspensa, por burlar CR7 e os outros ilustres do mundo do futebol.
Já havia cerca de três anos que Maria Silva vendia, de forma fraudulenta, viagens aos clientes da Geostar, através de um implante existente nas instalações da Gestifute no Porto. O esquema era simples: era contactada por inúmeros jogadores ou familiares que precisavam de viajar, marcava-lhes as deslocações e recebia em dinheiro, por cheque ou transferência bancária, valores que destinava às suas contas pessoais, em vez das da Geostar. Os clientes, como o ex-internacional e atleta do Benfica Tiago ou Simão Sabrosa, não sabiam que transferiam dinheiro para uma conta pessoal da agente.
Como aqueles clientes não pediam fatura em seu nome, a mulher debitava os respetivos valores na conta de Cristiano Ronaldo. É que, para não se preocupar com os pormenores das muitas deslocações que solicitava, CR7 tinha fornecido à agente, que conhecia há anos, um cartão de crédito virtual, assim como os respetivos códigos. Uma "via verde" para Maria Silva se apropriar de dinheiro da conta que o internacional português tinha no Banif.
Entre 2007 e 2010, Maria Silva debitou a Ronaldo cerca de 200 viagens que ele não fez e que representaram um prejuízo de 288 mil euros para CR7. Mas o futebolista multimilionário, que naquele período (em 2009) se transferiu do Manchester United para o Real Madrid, num dos mais caros negócios do mundo do futebol (94 milhões de euros), nem deu conta do rombo.
Nomeou gestor de confiança
Todavia, em abril de 2010, expirou a validade do cartão de crédito usado pela burlona, que contactou CR7 para, o mais rapidamente possível, efetuar a renovação. Ronaldo, que beneficiava de um plafond de crédito na Geostar, assim fez. Mas também aproveitou a ocasião para entregar a supervisão da conta bancária em causa a um gestor da sua confiança. E a mulher ficou sem poder usar "à discrição" o cartão. Começou a usar o plafond, que, rapidamente, chegou ao limite.
Foi quando CR7 solicitou quatro viagens, entre o Funchal e Lisboa, para quatro familiares seus, que o plafond foi ultrapassado. Para que Ronaldo não descobrisse que a sua conta-corrente na Geostar já estava no vermelho, a agente faturou o pedido de CR7 à Gestifute, ganhando assim algum tempo. Mas o empurrar de faturas para a frente, um esquema conhecido como "roulement de faturas", durou apenas alguns meses, até ser descoberto, no verão de 2010.
Quando confrontada pela Geostar, a mulher confessou tudo. Que tinha sacado cerca de 350 mil euros em viagens a CR7, Jorge Mendes, Gestifute, Nani e Manuel Fernandes.
Em janeiro de 2017, seria condenada por burla e falsificação de documentos, numa pena de prisão de quatro anos, que ficou suspensa, na condição de arguida pagar nove mil euros à sua antiga empresa. Ainda hoje, continua a pagar 200 euros, todos os meses.