"Aumento dos juros está a aumentar rapidamente custo dos empréstimos". Para a OCDE é, claramente, "um travão ao consumo e ao investimento das famílias".
Corpo do artigo
A subida das taxas de juro vai continuar este ano e o custo dos empréstimos devem manter-se em máximos de sempre até 2024, mas o défice orçamental público português deve cair para apenas 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 e repete-se a façanha em 2024, diz a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), esta quarta-feira, no novo panorama (outlook) para as economias mais desenvolvidas do globo.
Portugal cresce, mas no cenário deste estudo perde muita força. Segundo a OCDE, o PIB real pode avançar 2,5% este ano, mas em 2024 o ritmo baixa bastante, para 1,5%.
A procura interna, sobretudo o consumo privado, das famílias residentes, estará sob forte pressão dos juros a pagar e ainda da inflação elevada. Este agregado do PIB, que vale dois terços da economia, avança uns meros 0,6% em 2023 e 1% em 2024.
O investimento total (público e privado), que é crucial para o crescimento e o emprego nos próximos anos, acelera 3,1% este ano e reforça com mais 4,2% em 2024, mas sempre apoiado em fundos europeus, nomeadamente no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), diz a Organização que agrega as três dezenas de países mais desenvolvidos ou ricos do mundo.
As exportações totais crescem 8% este ano, sobretudo apoiadas no turismo de massas, mas a OCDE vê problemas na procura externa a seguir. As vendas das empresas portuguesas ao exterior só devem avançar 2,6% em 2024, o pior registo desde o primeiro ano da pandemia (2020, quando caíram quase 19%).
Diz a OCDE agora que "o crescimento real do PIB deve chegar a 2,5% em 2023 e 1,5% em 2024".
"O Plano de Recuperação e Resiliência deverá impulsionar significativamente o investimento público, embora haja riscos de que continuem a registar-se atrasos na execução destes fundos".
"O reforço da procura externa apoiará as exportações, nomeadamente nos serviços", onde o piloto é e continuará a ser o turismo.
"A taxa de emprego manter-se-á a um nível historicamente elevado e os salários vão acelerar. No entanto, a inflação nos preços no consumidor de 5,7% em 2023 e 3,3% em 2024 reduzirá o poder de compra e pesará no crescimento do consumo".
"O PRR está a apoiar o crescimento e as novas medidas de apoio em 2024, o que ajuda a suavizar o choque inflacionista no poder de compra das famílias", refere a organização sediada em Paris.
No entanto, "embora a dívida pública tenha diminuído abaixo do seu nível de 2019, continua a ser a terceira mais elevada da União Europeia".
A OCDE estima que o défice público caia para 0,1% do PIB este ano, um valor inferior ao que estima atualmente o Ministério das Finanças, de Fernando Medina. A Organização alinha com a última previsão, da Comissão Europeia, divulgada em meados do mês passado.
Mas insiste que "um quadro orçamental mais reforçado e uma despesa pública mais eficiente ajudarão a fazer face às crescentes pressões sobre as despesas decorrentes do envelhecimento da população e das fortes necessidades de investimento".
"A execução rápida do PRR reforçará o investimento verde [amigo do ambiente], a acumulação de competências e a capacidade na prestação de cuidados de saúde, o que ajudará ao crescimento mais sustentável e poderá também abrandar a descida da inflação", espera a OCDE no novo outlook.