O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, considerou, esta terça-feira, que, apesar da "loucura despesista dos últimos anos", a culpa não "se confina ao poder político" e "a banca não se pode eximir das responsabilidades" que conduziram à atual crise.
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"A crise profunda atual deve-se aos erros que nós próprios cometemos", afirmou Rui Rio durante o discurso do 38.º aniversário do 25 de Abril, na Câmara do Porto, considerando que "os constrangimentos internacionais apenas aceleraram o que seria sempre inevitável, face à loucura despesista dos últimos anos".
"Submissos a uma opinião pública moldada à medida duma lógica completamente irracional, em que podemos e devemos gastar o que se tem e o que se não tem, os decisores políticos foram conquistando muitos dos seus votos à custa dum exagerado endividamento do Estado central e de muitas das suas Câmaras Municipais. O resultado desta irracionalidade está hoje bem patente diante de todos nós. O sofrimento por que muitos portugueses hoje estão a passar é filho dessa leviandade e parente próximo da irresponsabilidade política", considerou.
No entanto, na opinião do presidente da Câmara do Porto, não se pode pensar que "a culpa se confina ao poder político", sendo perentório ao afirmar: "Haja frontalidade de referir que também a banca não se pode eximir das responsabilidades que lhe cabe no descalabro financeiro" a que Portugal chegou.
"A começar na incompreensível passividade do Banco de Portugal e a acabar nos erros de gestão da banca comercial, cujo respeito pelo interesse do país esteve, quase sempre, aquém daquela que foi a preocupação com o lucro, é por demais evidente que a sua lógica de funcionamento não esteve de acordo com a posição nevrálgica que o setor ocupa na economia nacional", criticou.
Segundo o autarca portuense, "as recentes notícias de que alguns bancos se têm dedicado a financiar operações de compra de ações, ou que poderão estar a aplicar os seus meios de títulos da dívida pública, comprados abaixo do par no mercado secundário, são um preocupante sinal da falta de unidade nacional no combate à crise, que tanto nos angustia e tanto nos atormenta".
"Nada mais será de esperar quando, muitas vezes, são os próprios dirigentes partidários que, de forma muito pouco séria, abraçam a postura demagógica, e são eles próprios, que para caírem na boa graça do populismo mas primário, tomam medidas de punição irracional sobre a dita classe política, como quem diz: são todos desonestos, menos eu, porque os castigo", disse.
"Ao assim terem procedido ao longo dos tempos, designadamente desde 1995, mais não fizeram do que trazer ao nível da intervenção política para o desagradado patamar que conhecemos e para desastrosos resultados em matéria de competência competitiva", afirmou.
O presidente da câmara social-democrata voltou a falar da necessidade de "reformas muito profundas no atual regime político", salientando ainda a urgência da reforma na Justiça.