Sindicalistas mais jovens com maior abertura nas negociações com os empregadores
A defesa dos interesses de quem trabalha é uma preocupação comum a sindicalistas e membros das comissões de trabalhadores, mas os mais novos parecem ter uma perspetiva de maior abertura nas negociações com os empregadores.
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Coordenador da União de Sindicatos de Setúbal até há pouco tempo, Rui Paixão tem muitos anos dedicados à atividade sindical, em que acompanhou a luta de milhares de trabalhadores das empresas da região, mas sempre com a perspetiva de uma melhoria dos salários e das condições de trabalho.
"No nosso entendimento, negociar é melhorar; melhorar salários, melhorar condições de trabalho, melhorar", afirma à Lusa Rui Paixão, convicto de que a melhoria das condições de vida dos trabalhadores não se consegue com cedências.
"Criticam os sindicatos da CGTP dizendo que estão velhos, estão noutro mundo e não estão em sintonia com a globalização, mas as coisas novas que nos apresentam - e que agora dizem que são necessárias - se formos ver a história das relações de trabalho, são velharias do século XIX", acrescentou Rui Paixão.
A poucos dias de uma nova greve geral, Rui Paixão admite que o aparecimento das novas tecnologias provocou alterações significativas na atividade sindical, tal como em toda a sociedade, mas continua a acreditar que a "essência do trabalho dos sindicatos não mudou".
Membro da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, Carlos Cardoso, 37 anos, revela outra abertura para o diálogo com a entidade patronal e sustenta que há muitos sindicatos que precisam de se adaptar a uma nova realidade.
"Os processos que muitos sindicatos usam são do passado. São as ideias fixas de que não se negoceia nada que seja perda de regalias, que não seja aumentos salariais. E que não se negoceia bancos de horas", disse.
"É nisso que esses sindicatos têm de melhorar, é o passo a dar. Não é ceder em todos os aspetos, mas dialogar. Uma negociação é isso mesmo", acrescentou Carlos Cardoso.
O mais jovem elemento da comissão de Trabalhadores da Autoeuropa referiu ainda que decidiu abandonar o Sindicato dos Metalúrgicos justamente por considerar que aquela estrutura sindical não tinha uma intervenção adequada à realidade atual.
Carlos Cardoso ressalvou, no entanto, que tem uma experiência adquirida na Autoeuropa, empresa na qual as cedências dos trabalhadores têm contrapartidas, e que tem uma administração com uma postura mais correta do que a grande maioria dos empregadores portugueses.
"As empresas nacionais devem olhar primeiro para a administração da empresa Autoeuropa e só depois para os sindicatos e para os trabalhadores", concluiu.