Os sindicatos e a administração da Carris divergem quanto à adesão à greve de hoje, sexta-feira, com os primeiros a acusar a empresa de exercer "pressões" e "ameaças" junto dos motoristas para que se mantenham a trabalhar.
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"Há muitos motoristas que estão ao serviço por via dessas pressões, pois foram informados de que se aderissem à greve, os seus contratos não seriam renovados", relatou Manuel Oliveira, do Sindicato Nacional de Motoristas, acrescentando tratar-se de "artifícios" da administração da Carris, os quais eram "já esperados".
Questionado sobre as alegadas pressões por parte da administração da empresa para os trabalhadores não aderirem à greve, o secretário geral da empresa, Luís Vale, desmentiu as acusações do sindicato. "Não corresponde, de todo, à verdade", garantiu.
Alegadas violações no acordo da empresa por parte da administração estão na origem da greve dos trabalhadores da rodoviária Carris, durante quatro horas, entre as 08.00 horas e as 12.00 horas de hoje, sexta-feira.
Em causa está o alegado incumprimento das obrigações da empresa em caso de doença, a falta de atribuição das licenças devidas, inexistência de instalações sanitárias e instauração de processos disciplinares considerados pelos trabalhadores como sendo injustificados.
Sindicato e empresa com diferentes números de adesão
"Registámos cerca de 50 por cento de adesão", declarou o sindicalista Manuel Oliveira, em oposição aos resultados apresentados pelo secretário-geral da Carris, Luís Vale, que garantiu que "92 por cento da oferta da empresa está disponível".
A "esmagadora maioria" dos funcionários da empresa apresentou-se ao trabalho, garante Luís Vale, razão pela qual, dos 708 veículos programados para o transporte de passageiros, 651 "estão a circular. Apenas oito por cento aderiu à greve, o que significa que apenas 57 viaturas não saíram para a rua", acrescentou Luís Vale.
"Derivado de todos os condicionalismos existentes, os números estão dentro das nossas expectativas", disse o dirigente sindical, referindo-se às alegadas pressões que terão sido exercidas pela administração da empresa junto dos trabalhadores.
Luís Vale disse ainda à Lusa que a "reduzida adesão à greve" mostra que os trabalhadores da empresa "evidenciaram um elevado sentido de respeito para com o serviço público".
O secretário geral da transportadora disse ainda não compreender as razões da greve dos trabalhadores da Carris, afirmando que "são integralmente cumpridos os normativos do acordo", nomeadamente no que respeita à existência de instalações sanitárias, bares e refeitórios. "Não percebemos as razões de tudo isto", repetiu.
Do lado do Sindicato Nacional de Motoristas, Manuel Oliveira assegura que as alegadas pressões de que os trabalhadores terão sido alvo contribuíram para que a adesão à greve não fosse maior.
"Os relatos que nos chegaram, vindos dos próprios motoristas, dão conta de que as pressões foram feitas por telefone. Parece que a aplicação de custos não se aplica nesta situação", disse, adiantando que as alegadas tentativas de dissuasão terão sido feitas igualmente por meio da central de comunicação de tráfego, que permite as comunicações entre a central e os vários motoristas.
A paralisação foi convocada por quatro forças sindicais - Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações, Sindicato dos Trabalhadores de Transportes, Associação Sindical de Pessoal de Tráfego da Carris e Sindicato Nacional de Motoristas.