Autores de estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos admitem bolha na habitação em Lisboa e Porto.
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O aumento dos preços das casas a partir de 2017 agravou significativamente a possibilidade de adquirir ou arrendar uma habitação nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, alerta uma análise sobre habitação da Fundação Francisco Manuel dos Santos. O documento adianta que a dimensão do incremento nos preços da habitação sugere mesmo uma possível sobrevalorização e até exuberância (bolha) nas duas principais cidades do país.
Esta crise no acesso à habitação nas zonas urbanas, onde está concentrado o emprego, é explicada no estudo pela utilização do parque habitacional para fins turísticos, pela procura dos estrangeiros, pela evolução das estruturas familiares (mais agregados e de menor dimensão), por um aumento da população residente nessas áreas e também por um volume deficitário de construção nova nestes últimos anos. Sem uma resposta ajustada ao nível da oferta, esta elevada procura acabou por pressionar os preços.
Para que um agregado de dois jovens no ativo consiga adquirir um alojamento mediano na freguesia mais barata de Lisboa ou do Porto é necessário que os dois “atinjam pelo menos o percentil 60 da distribuição de rendimentos dessa zona geográfica, quando em 2017 era acessível a um agregado no percentil 40 em Lisboa ou 20 no Porto”, diz o estudo. Em síntese, o nível de rendimentos necessário para adquirir casa nas grandes cidades disparou, inclusive nos outros municípios das áreas metropolitanas, afastando até parte da classe média da possibilidade desse investimento.
Em simultâneo, também o valor exigido para a entrada (no caso de compra com recurso a crédito bancário) galopou. O capital inicial “aumentou para a casa mediana de cerca de 30 mil para 56 mil euros no concelho de Lisboa, e de cerca de 16 mil para 37 mil euros no concelho do Porto, entre 2017 e 2022”, aponta o relatório da autoria de Rita Fraque Lourenço, Paulo M. M. Rodrigues e Hugo de Almeida Vilares. Como concluem, “hoje, um jovem (ou casal), para adquirir ou arrendar casa, tem de estar inserido com muito sucesso no mercado de trabalho, e no caso de aquisição, ser capaz de acumular poupanças a um ritmo acelerado”.
Soluções
Estudo defende a subsidiação da procura habitacional focada no arrendamento, apoios aos proprietários devido à subida das taxas de juro e um controlo de rendas de curta duração.
Relatório sugere a criação de zonas de expansão habitacional nas áreas metropolitanas e de redes de transportes e serviços públicos, como no Parque das Nações, em Lisboa, e a disponibilização de solos privados e públicos para construção de casas.