Para áreas de serventia e populações equivalentes, cada qual à roda de cinco milhões de habitantes, o modelo de serviço público da companhia nacional de bandeira acentua a tendência dos últimos anos.
Corpo do artigo
Dos 385 voos operados, anteontem, no aeroporto de Lisboa, 146 eram da TAP. No Porto, de um total de 142 movimentos, a companhia resgatada pelo Estado ofereceu 16. O desequilíbrio agrava-se na mesma medida do melindre instalado do Mondego para cima. A transportadora desculpa-se com "as fortes limitações" da pandemia e com os negócios de "hub and spoke".
No caso da aviação civil, "hub and spoke" é o sistema de transporte de passageiros desde aeroportos mais pequenos, em trânsito para aeroportos maiores e centrais, como a TAP elege o de Lisboa. "60% dos passageiros da TAP fazem em Lisboa a ligação entre voos que não têm como destino ou origem final em Portugal. No entanto, a TAP continua a ser a companhia que oferece mais voos intercontinentais diretos do Porto, para destinos no Brasil e Estados Unidos. O mercado português, no seu todo, representa, em circunstâncias normais, menos de 20% do total dos passageiros transportados pela TAP", diz ao JN fonte da administração da transportadora nacional.
Low-cost na dianteira
A norte, verifica-se que o denunciado "menosprezo da TAP" por Pedras Rubras, assim como pelos aeroportos de Faro e do Funchal, não tem nada a ver com a pandemia e que é preciso recuar a dezembro de 2018 para se achar a última vez em que a operadora nacional foi a que mais movimentos gerou no Francisco Sá Carneiro (29%, ex aequo com a Ryanair).
Desde então, a "low-cost" irlandesa tomou a dianteira em Pedras Rubras, ao ponto de figurar destacada (36% dos passageiros) no último relatório trimestral (julho-setembro) da Associação Nacional de Aviação Civil (ANAC), no qual a TAP surge já no terceiro lugar (10%), atrás da easyJet (16%). Já em Lisboa, segundo o mesmo relatório, a transportadora nacional permanece dominante, com 50% dos movimentos e 44% dos passageiros.
"Qualquer análise que se procure fazer ao tráfego de passageiros em período de pandemia e de fortes limitações à mobilidade e livre circulação de pessoas assenta em bases que nada têm a ver com o regular funcionamento do mercado", explica-se a TAP, que não admite a libertação de "slots" (faixas horárias), como exige a Ryanair.
A operadora nacional até considera que de junho para setembro duplicou o número de passageiros no Porto: "Essa quota foi de 10% no terceiro trimestre, quando no anterior era de 5%. Esta duplicação mostra um crescimento que se espera que continue".
Efetivamente, no penúltimo relatório trimestral da ANAC (abril-junho), a quota de mercado atribuída à TAP não foi de 5%, mas de 14%.
Rotas e destinos
Segundo a flightera.net, Lisboa é o destino mais frequente das rotas descoladas do Porto, com 99 voos e 12 661 lugares por semana. Seguem-se Paris Orly (79/14 875), Madrid (78/12 944), Barcelona (58/10 824) e Genebra (50/8893).
Ryanair à frente
De acordo com a Flightera, a "low-cost" irlandesa é a que mais voa de e para o Porto, com 58 voos e oferta de 10 999 lugares por dia. Seguem-se a easy Jet (23/4310), a TAP (16/2912), a Transavia (8/1559) e a Lufthansa (7/1341).
Recuperação
No progressivo desconfinamento e libertação da pandemia, os indicadores de tráfego revelados pelo Eurostat confirmaram os sinais de recuperação. Em comparação com o período homólogo de 2020, em agosto de 2021, o número de voos comerciais na União Europeia aumentou 48%, atingindo 479 mil voos.
97 mil voos
Em Portugal, no terceiro trimestre de 2021, foram operados 97 mil voos comerciais e transportados aproximadamente nove milhões de passageiros. Segundo a ANAC, os principais mercados - França, Inglaterra e Espanha - asseguraram 37% dos passageiros transportados de e para os aeroportos portugueses.