Estados Unidos anunciaram taxa de 25% sobre aço e alumínio. Portugal não vende como matéria-prima, mas negócios de componentes como cabos e máquinas são relevantes.
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Os setores da metalurgia, da metalomecânica e dos materiais de construção ainda estão à espera de perceber o alcance das tarifas de 25% anunciadas pelos Estados Unidos sobre o aço e o alumínio de todo o Mundo, mas o anúncio deixa em risco mil milhões de euros de exportações portuguesas em metais para aquele país. Se as novas taxas incidirem apenas sobre a matéria-prima, a Europa até pode sair a ganhar, mas se for nos produtos que são feitos com aqueles materiais, já pode ser relevante para Portugal.
Em 2024, Portugal não exportou qualquer euro de aço ou alumínio para os Estados Unidos, mas vendeu-lhes quase mil milhões de euros em produtos fabricados com aqueles metais. Anteontem, ao anunciar tarifas adicionais de 25% sobre as importações de aço e alumínio, Donald Trump não especificou se também estão abrangidos os produtos derivados. Para Portugal, isso faz toda a diferença.
Indústria está expectante
“Se for matéria-prima, não nos preocupa. Se forem produtos transformados, isso sim, seria grave”, analisa Rafael Campos Pereira, vice-presidente-executivo da Associação dos Industriais Metalúrgicos e Metalomecânicos de Portugal (AIMMAP). O responsável confirma que exportamos “mil milhões de euros para os Estados Unidos” em todos os produtos, como máquinas, cabos ou peças técnicas.
Caso o presidente norte-americano apenas agrave as taxas sobre o aço e o alumínio em bruto “vai encarecer os produtos americanos, o que para Portugal e para a Europa é ainda melhor”, acrescenta Rafael Campos Pereira. A prudência é a palavra de ordem e o receio do setor estende-se àquilo que a União Europeia fará como resposta às novas tarifas: “Preocupa-nos muito mais que taxas é que a Europa vai aplicar às matérias-primas, nomeadamente ao aço da China”.
José de Matos, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção (APCMC), também espera para ver: “Diretamente não preocupa porque temos de esperar para ver a que é que se aplicam essas tarifas e temos de esperar pelas outras que ele disse que ia anunciar esta semana”.
De uma forma ou de outra, o secretário-geral da APCMC não tem dúvidas de que “está em marcha um processo de retração da globalização com encarecimento geral dos produtos” e “é bom que se comece a perceber que vai resultar numa redução do poder de compra e riqueza mundial”.
Segundo os dados divulgados ontem pelo INE, Portugal exportou 5,3 mil milhões de euros em bens e serviços para os Estados Unidos em 2024. Os medicamentos estão no topo da lista. Os produtos maioritariamente compostos por aço e alumínio totalizam 274 milhões de euros.
Já nas importações, que são afetadas caso a UE responda com tarifas aos EUA, o montante em risco é de 3,9 mil milhões de euros. Neste caso, os combustíveis e os óleos são os mais afetados.
Caso a guerra comercial de Donald Trump contra o Mundo se adense, as empresas portuguesas “terão de continuar a diversificar mercados”, mas todos querem evitá-lo, realça Rafael Campos Pereira: “Os Estados Unidos são o maior mercado do Mundo, o mais importante e o mais relevante, é onde queremos estar”.