O Conselho do Banco Central Europeu voltou a subir a principal taxa de juro diretora em 0,25%, fixando-a em 4,5%. A decisão vai ter impacto nas prestações do crédito à habitação, mas não só. Saiba o que é e qual é a importância desta taxa de juro.
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O que é que o BCE decidiu esta quarta-feira?
O Banco Central Europeu (BCE) subiu, pela décima vez consecutiva, a taxa de juro diretora. A taxa sobe agora 0,25%, para 4,5%, na décima subida seguida desde que saiu do zero, em julho de 2022. A decisão vai ter impacto em todos os créditos, incluindo os da habitação, cuja prestação inicial passará a ser até 76% maior do que em abril do ano passado.
Qual o impacto da subida na prestação de um crédito à habitação?
Num empréstimo de 150 mil euros a 30 anos, com spread de 1% e Euribor a 12 meses (a mais utilizada em Portugal), a prestação média era de 493 euros em abril de 2022 e subirá para 851 euros, o que se traduz num aumento de 358 euros, segundo as contas do JN, segundo o simulador do Banco de Portugal. A subida é maior quanto maior for o montante do empréstimo, sendo que, no caso de um crédito de 250 mil euros, a subida das taxas chega a representar mais de 600 euros de aumento da prestação, no mesmo período. Em qualquer cenário, o aumento está acima dos 70%.
Como se processou a votação?
De um lado estava o grupo dos “falcões”, em maioria, com os governadores alemão, holandês e belga à cabeça, que defenderam a subida das taxas para travar a inflação elevada. Do outro estava o grupo das “pombas” – no qual se inclui o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno –, encabeçado pelos governadores espanhol e italiano, que estavam contra a subida, pois a escalada está a prejudicar as famílias e as empresas. O sentido de voto dos 26 membros nunca é revelado, nem o resultado final da votação. Foi "uma maioria sólida", disse Christine Lagarde.
O que está a pensar fazer o Governo português?
O Governo aguardava pela decisão do BCE para lançar novas medidas de apoio às famílias que ficam em maiores dificuldades com a subida da prestação do crédito à habitação. Segundo Fernando Medina, serão apresentadas ainda este mês duas medidas: o reforço “significativo” da bonificação dos juros para famílias com taxas de esforço acima dos 35%; e uma nova medida de estabilização das prestações “durante dois anos” cujos moldes ainda não se conhecem.
O que é a taxa diretora?
A taxa diretora ou de refinanciamento é a taxa de juro à qual cada banco central empresta dinheiro aos bancos comerciais. Por efeito dominó, a taxa diretora do Banco Central Europeu influencia todas as restantes taxas de juro da Europa. Assim, é um instrumento para incentivar ou diminuir o volume de empréstimos e, consequentemente, o ritmo de crescimento das economias e a inflação.
Qual é o impacto da taxa na economia?
Enquanto referência para o preço do dinheiro, a taxa diretora serve de estímulo ou de redução do volume de empréstimos, o que influencia os gastos das famílias, o investimento das empresas e o crescimento económico. Num cenário de aumento da taxa, pedir um empréstimo fica mais caro e, por isso, há um incentivo à poupança ao invés do consumo. Com menos consumo, as economias abrandam devido à diminuição da procura e os preços baixam.
Porque é que o objetivo da inflação é 2%?
A estabilidade de preços é desejável. O BCE considera que 2% lhe dá margem de segurança contra a deflação e a flexibilidade suficiente para reduzir as taxas de juro e incentivar o consumo em situações adversas. À partida, a redução dos preços durante um período de tempo (deflação) pode parecer positiva, mas tem implicações negativas na economia pois, ao reduzirem-se preços, as cadeias perdem valor e, consequentemente, riqueza e postos de trabalho.