Dielmar, marca que até vestiu a seleção de futebol, entregou no tribunal o pedido de insolvência. Autarca de Castelo Branco diz que é uma "catástrofe".
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A empresa de confeções Dielmar, fundada em 1965 em Alcains, vila e freguesia de Castelo Branco, vai fechar portas, colocando 400 trabalhadores no desemprego. A administração entregou na sexta-feira um pedido de insolvência junto do tribunal, pedido este que terá merecido provimento, confirmou, no sábado, ao JN o presidente da Câmara de Castelo Branco, José Alves, que considera a situação uma "catástrofe" para Alcains.
A fábrica, localizada numa vila com pouco mais de 4500 habitantes e com várias lojas no país, não resistiu à pandemia, que colocou as lojas próprias e fornecedores na Europa de portas fechadas. Antes da covid, era já conhecida a situação de dificuldade em que vivia esta empresa com marca 100% portuguesa e conhecida por vestir famosos de várias áreas, incluindo a seleção nacional de futebol.
"Pedimos em devido tempo uma reunião com o ministro da Economia, que por falta de agenda não nos recebeu. Também fizemos saber junto de outros membros do Governo que a empresa estava com dificuldades", diz José Alves, que na próxima semana espera "reunir com outras entidades" para poder ser encontrada uma solução "para a tragédia que se abateu sobre Alcains". Adianta que a empresa lhe garantiu que "os direitos dos trabalhadores serão acautelados e que os vencimentos e subsídios foram pagos".
Trabalhadores desconhecem
Para hoje está marcado um plenário com os trabalhadores, às 15 horas, à porta da empresa. "Os trabalhadores estão a gozar um período de férias até dia 16. A Comissão Sindical da Dielmar não sabe de nada, o que estranhamos, e por isso pedimos informações urgentes à administração", afirma Marisa Tavares, dirigente do Sindicato Têxtil da Beira Baixa.
Nas constantes visitas de membros de vários governos, a administração queixava-se dos custos de contexto, da distância até aos mercados, do ambiente desfavorável do desenvolvimento industrial, do abandono do interior, da falta de quadros e de recursos humanos e da falta de apoios financeiros. "Segundo o que a administração me transmitiu, terá sido a recusa de apoio do Banco de Fomento que originou este triste desfecho. Era o que mais temíamos, porque estamos a acompanhar há muito tempo a situação delicada em que vivia a Dielmar", afirma José Alves. "É uma situação triste para uma marca importante para a região, para o país e para o mundo", conclui o autarca.
"Disto já não se fabrica mais"
Dielmar foi criada por quatro alfaiates de roupa para homem. Graças à proximidade com as empresas de lanifícios da Covilhã, o negócio cresceu. A génese de "fato à medida" nunca foi abandonada com três alfaiates "ao domicílio". À revista "Notícias Magazine", em abril, a diretora executiva da empresa, Ana Paula Rafael, filha de um dos fundadores, confirmava os tempos difíceis. "A Dielmar é um património nacional, é um património do interior, é uma marca bandeira de Portugal. Mas será que a pandemia nos permitirá resistir sem os apoios do Governo à empresa? Porque disto já não se fabrica mais."
O JN tentou falar com Ana Paula Rafael no sábado, mas a CEO esteve incontactável.
Empresa
Quatro anos com os craques
A Dielmar vestiu fora dos relvados a equipa da Seleção Nacional A em futebol. A parceria com a Federação Portuguesa de Futebol durou entre 2014 e 2018.
Pandemia com lay-off
Quando o país entrou em confinamento, a Dielmar recorreu ao lay-off. Com lojas fechadas e sem vendas, esteve praticamente sem laboração para o mercado.