Albufeira é o concelho com maior proporção de cidadãos de baixos rendimentos. Os ricos estão mais no litoral.
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As regiões do Algarve e de Trás-os-Montes são as que têm maior proporção de população mais pobre, demonstram os dados do Gabinete de Estudos do Ministério das Finanças, que elaborou recentemente um relatório relativo às desigualdades de rendimento e IRS. A análise usa microdados relativos às notas de IRS de 2020.
De acordo com o relatório, os 10% mais pobres de Portugal têm um rendimento anual inferior a 3370 euros e estão distribuídos de maneira disforme pelo território. O concelho com maior proporção de cidadãos nesta lista é Albufeira. Segundo o documento, 17% dos residentes neste concelho estão no grupo dos 10% mais pobres do país. A seguir vem Lagos e Tavira, ambos com 16%, e Lagoa e Valpaços, com 15%.
Frederico Cantante, professor do ISCTE e investigador do Observatório das Desigualdades, explica que a sazonalidade dos rendimentos ligados ao turismo do Algarve "podem contribuir para baixar a média" dos rendimentos e, além disso, "há atividades económicas que orbitam em torno do turismo que tendem a praticar salários mais baixos". Outra razão é "a existência de algum trabalho informal", acrescenta o investigador, sendo que esta informalidade também está associada "ao setor do turismo".
Em Trás-os-Montes as causas serão diferentes. Segundo Frederico Cantante, a maior incidência de uma economia ligada à agricultura que "é pouco remunerada e onde a economia informal também tende a ser mais marcada" pode ajudar a explicar o fenómeno. Por outro lado, os bens de autoconsumo relacionados com a alimentação são, na prática, "rendimento não monetário" que, por isso, não é traduzido nas declarações de IRS nas quais se baseiam os dados do Governo. E em Trás-os-Montes a proporção de bens de autoconsumo "tende a ser mais elevada, sobretudo nas aldeias", afirma Frederico Cantante.
Em sentido inverso, a maior proporção de ricos verifica-se em concelhos do litoral que não estão na região do Algarve, com destaque para as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
Ricos estão no litoral
A lista dos 0,1% mais ricos de Portugal é monopolizada por habitantes de seis concelhos. Lisboa, com 1941 pessoas entre os mais ricos, lidera. Segue-se Cascais (510), Porto (413), Oeiras (272), Sintra (155) e Vila Nova de Gaia (120).
As regiões do Algarve e de Trás-os-Montes também são as que apresentam maiores disparidades de rendimentos. Em Lagos, a diferença entre o grupo de 1% mais ricos e 10% mais pobres é de 11 646 euros, mais do dobro do que Tavira (5032 euros), que está em segundo lugar, e oito vezes mais do que Valpaços (1421,69 euros), terceiro.