Trichet defende intervenção directa da União Europeia nos países que violem regras da estabilidade
O presidente cessante do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, defendeu, esta segunda-feira, em Berlim uma intervenção directa das instituições internacionais na gestão dos países em sistemáticas dificuldades para controlar as finanças públicas, propondo que se possam "substituir aos governos".
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"Os esforços que estão a ser feitos actualmente para impor condições estritas aos países que pediram ajuda financeira por não terem acesso aos mercados de capital são justificados", disse Trichet em discurso sobre o futuro da Europa, na Universidade Humboldt, resssalvando, porém, que esses países "devem ter o direito de tentar inverter a sua situação".
Tais tentativas, porém, "devem ter limites claros" e numa segunda fase, se um país persistir em falhar os objectivos dos programas de ajustamento financeiro, "terá de haver contra medidas por parte das entidades que concedem a ajuda internacional", sublinhou Trichet.
Assim, nesses casos, as instituições da zona euro "devem ter um papel mais importante e mais autoritário na formulação das políticas económicas" dos Estados prevaricadores, "substituindo-se aos próprios governos", propôs o presidente do BCE, assumindo que isso "tornará, no entanto, inevitável uma alteração dos tratados europeus", lembrou.
Tal como Trichet, o governo alemão tem insistido na alteração dos tratados para que se possa não apenas aprofundar a união política, e pô-la em consonância com a união monetária, mas sobretudo impor uma maior disciplina orçamental aos países da moeda única para evitar crises como a atual.
O presidente do BCE voltou a propor também a nomeação de um ministro das finanças da zona euro, como já tinha feito em Junho, em Aacen, ao receber o prémio Carlos Magno, pelos seus méritos na construção europeia.
"Não considerado que seja demasiado atrevido considerar a a possibilidade de criar um ministério das finanças europeu, o que é demasiado atrevido seria não pensar em criar uma instituição deste género", afirmou.
Trichet aproveitou ainda para defender a compra de dívida soberana de países da zona euro em dificuldades financeiras através do BCE, alegando que esta transacção se destina a melhorar a relação entre a política monetária e a economia, "tanto mais que os mercados de títulos são cruciais" para o trabalho do banco central.
Neste sentido, rejeitou que o programa de compra de títulos da dívida pública do BCE tenha carácter inflacionário, e lembrou que, ao contrário do que fazem outros bancos centrais, o objectivo não foi injectar liquidez na economia.
"É importante perceber que as decisões políticas do BCE durante a crise estiveram em linha com o nosso mandato de garantir a estabilidade dos preços", afirmou Trichet.