Bruxelas estima crescimento de 5,8% do PIB este ano graças à procura dos mercados externos. Faltam 45 mil pessoas para acolher visitantes.
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Portugal vai ser o país da União Europeia (UE) que mais vai crescer, este ano, com um aumento de 5,8% do produto interno bruto (PIB) e uma diminuição do rácio da dívida face ao PIB para atingir 115%, em 2023, estimou ontem o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni. A reabertura do turismo e a procura dos mercados externos sustentarão esse crescimento, numa altura em que o setor atravessa dificuldades. "Faltam 45 mil pessoas no turismo. É essa a nossa principal preocupação ", resumiu Bernardo Trindade, ex-secretário de Estado do Turismo, economista e gestor hoteleiro.
A economia portuguesa vai crescer mais do que qualquer outra na UE, prevê a Comissão Europeia, atribuindo o aumento de 5,8% do PIB português à base mais baixa em 2021 e à recuperação dos mercados externos para o turismo nacional. Essa dinâmica já se nota nos aeroportos e na ocupação hoteleira da Páscoa, apontou o presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP).
"As projeções da CTP são claramente animadoras", disse Francisco Calheiros. "Este será o ano da recuperação", anunciou, embora preocupado com os desafios. "Temos como prioridade agilizar soluções que permitam encontrar mão de obra suficiente e de qualidade para responder à elevada procura que teremos", disse.
Na maior região turística portuguesa, os hotéis "vão ter de deixar de vender quartos ou fechar restaurantes devido à falta de pessoal", assumiu Hélder Martins, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve. No Porto e Norte, a situação é idêntica e Luís Pedro Martins teme que "a falta de recursos humanos ponha em causa a recuperação do turismo".
Para o antigo secretário de Estado do Turismo e gestor do grupo PortoBay, "a falta de trabalhadores para o turismo pode obrigar a rejeitar clientes". Mas isso é algo que também "já estamos a fazer quando o Aeroporto de Lisboa não tem capacidade", acrescentou Bernardo Trindade.
fechar portas ao turista
Depois de dois anos com pouca ou nenhuma atividade devido à pandemia, o setor enfrentará desafios, este ano, "para receber todos esses turistas com a qualidade que esperam de nós e de forma a aumentar valor", explicou Cristina Siza Viera, diretora-executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). As perspetivas para 2022 "têm vindo a melhorar" e "se nada de trágico suceder no último trimestre, podemos atingir 85% a 90% das receitas" pré-pandemia.
Ana Jacinto, líder da AHRESP, alerta que "a falta de trabalhadores poderá, de facto, comprometer a qualidade de serviço das nossas empresas" e o problema só pode ser resolvido com "vontade política" para que, nomeadamente, "se invista em programas de imigração controlada e com todas as condições de trabalho, quer ao nível da formação, da inserção profissional e familiar, quer ao nível da habitação".
As receitas do turismo deverão ficar muito próximas das de 2019, mas há o receio de que "a curto/médio prazo, a inflação e o previsível aumento das taxas de juro se traduzam numa redução da procura e do consumo privado". Ana Jacinto aponta que as empresas estão a absorver o aumento de custos, o que "não é sustentável durante muito tempo".