Pagamentos com cartões denotam um aumento da faturação em todas as frentes da atividade turística, apesar dos fracos avanços dos negócios do aluguer de veículos.
Corpo do artigo
Três anos depois de uma pandemia que colocou toda a economia numa situação de fragilidade, o setor turístico em Portugal revela hoje uma clara recuperação, com os níveis de faturação e transações dos negócios a superarem largamente os de 2019. O crescimento ocorreu especialmente em 2022, mas não mais parou até agosto deste ano, apesar do refreio na atividade das rent-a-car, que, não obstante a evolução homóloga positiva, avançou uns ligeiros 3% em termos de receitas, tendo sido o segmento que menos progrediu.
Estes dados foram compilados pela Reduniq - rede nacional de aceitação de cartões da marca Unicre, que detém cerca de 70% da quota de mercado - para o DN/Dinheiro Vivo e revelam que a região Centro foi a única a avançar significativamente (+42%). Nas restantes regiões, os acréscimos foram residuais, de 1% e 4% na Área Metropolitana (AM) de Lisboa e Madeira, respetivamente, e no Algarve chegaram-se mesmo a registar quebras de 9%.
Tiago Oom, diretor comercial da Unicre, propõe várias hipóteses: "Ou o nosso nível de turismo baixou ligeiramente, no sentido em que os visitantes começaram a optar pelos transportes públicos, ou as grandes cidades começaram a ficar demasiado congestionadas para andar de carro". O estranho caso de crescimento das rent-a-car na região sul, que não foi acompanhado por outros segmentos, como a hotelaria e restauração, pode ainda ser explicado pela aposta das empresas do ramo nos pagamentos eletrónicos ou pela própria expansão dos negócios para localizações menos tradicionais.
Nos primeiros oito meses do ano, as transações a cartão em todo o país aumentaram 27% face ao igual período de 2022, somando mais 24 pontos percentuais do que a faturação. Esta é uma tendência fácil de entender quando se olha para o valor médio por compra: se no ano passado, pela mesma altura, o ticket médio era de 116,80 euros, até agosto de 2023 foi de 94,61 euros, um decréscimo de 19% e uma diferença de 22,19 euros em valor. Algarve (-34%), Centro (-25%) e AM de Lisboa (-21%) foram as que mais ressentiram, enquanto nos Açores e na Madeira se verificaram os valores mais altos, de 208,87 e 204,55 euros, pela mesma ordem.
O motivo de tudo isto? A democratização dos pagamentos, aponta o mesmo responsável. "A partir de uma determinada altura, nomeadamente no período de pandemia, que veio acelerar muito todo este processo, começou a haver um recurso aos meios eletrónicos de pagamento que não havia antes. As operações cash [a numerário] estão hoje a desaparecer, quer ao nível dos residentes, quer dos estrangeiros." Resumindo, já não há quaisquer problemas em pagar pequenas quantias, como um café ou um bolo na pastelaria, a cartão - e foram precisamente esses pequenos movimentos que fizeram disparar o número de transações em todos os setores.
Comprar mais por menos foi, assim, transversal a todas as atividades do turismo e em momento algum significou preços mais baixos. Na hotelaria, as transações subiram 25%, em comparação com o período homólogo, tendo sido o pódio ocupado pela Madeira (41%), AM de Lisboa (31%) e Alentejo e Algarve (ambos 25%). O ticket médio nacional neste segmento diminuiu 7%, para 142,07 euros, contra os 152,76 euros homólogos - ou seja, uma diferença de 10,69 euros. Os valores mais altos por transação foram registados no Algarve (218,54 euros), na Madeira (188,37 euros) e nos Açores (179,48 euros).
Apesar de ter sido o que menos cresceu na faturação face a 2019, o ramo hoteleiro também registou melhorias, ao somar 16% relativamente a agosto do ano passado, com avanços homogéneos por todo o país, entre os 17% e os 22%, à exceção do Algarve, que conheceu um acréscimo de apenas 6%. A Madeira foi a região que mais evoluiu ao nível das receitas e não deixa dúvidas que, juntamente com o Algarve, "é o grande destino de turismo". Franceses, ingleses, norte-americanos, espanhóis e ("curiosamente") irlandeses foram os principais emissores estrangeiros, que, a par de outras nacionalidades, contribuíram para que a faturação exterior pesasse 42% e 48%, respetivamente, naquelas regiões.
Mas Tiago Oom atenta que outras regiões, como o Alentejo, começam a despertar. "Estamos a assistir a um descobrir do país, tanto por parte dos nacionais, como dos estrangeiros. As pessoas começaram a ponderar alternativas ao Algarve e gostaram: da beleza, dos preços mais baixos e do alojamento mais acessível." Pelas palavras do responsável, Portugal tem muita atratividade e o turismo continua a crescer em todas as frentes.
E, analisando o último segmento, confirma-se. Os negócios de restauração não só dobraram a faturação relativamente ao pré-pandemia, como também foram os que mais cresceram nos primeiros oito meses de 2023, por comparação ao igual período do ano passado, tendo em conta os três setores. Ao todo, subiu 20%, com a Madeira (+35%), os Açores (+30%) e o Centro e Alentejo (ambos 24%) a assumirem a liderança - a AM de Lisboa, por seu turno, foi a que conheceu uma menor subida (18%).
Já o número de transações acentuou-se 22%, potenciado por "uma grande procura dos terminais de pagamento", faz saber o diretor. Os maiores crescimentos foram observados na Madeira (+33%), Alentejo (+30%) e Açores (+27%), ao passo que a Área Metropolitana de Lisboa e o Norte registaram as menores subidas, de 18% e 19%, pela respetiva ordem. Como expectável, considerando os preços de cada um, este foi o segmento que registou um valor médio por compra mais baixo: 20,32 euros, menos 2% e 41 cêntimos do que na igual altura de 2022. As quebras no ticket fizeram sentir-se em todas as regiões, excetuando os Açores e a Madeira, que progrediram ambos 2%.