Famílias destacam a poupança de tempo como o principal benefício do serviço. Atividade é cada vez menos sazonal, mas a secagem continua a ser mais procurada.
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A procura pelas lavandarias self-service aumentou nos últimos meses e são cada vez mais os motivos que levam os consumidores a optar por este serviço. O inverno particularmente chuvoso e a consequente humidade nas casas portuguesas justificam a maioria das idas à lavandaria, mas o turismo, a imigração e o fluxo de trabalhadores ou estudantes deslocados ganham peso no negócio.
Sidónia Faustino, responsável pela marca Washstation, que detém mais de 120 lavandarias self-service espalhadas pelo país e é proprietária de 10% da cadeia, registou um acréscimo de procura "entre 15% e 20%" em relação ao ano passado. "Todos os invernos temos mais clientes, mas este ano foi peculiar porque saímos de uma pandemia e notamos uma afluência maior de turistas, mas também de pessoas de outras nacionalidades que se fixaram em Portugal e veem no serviço uma resposta a uma necessidade." A empresária admite que as condições meteorológicas intensificam a procura no Norte litoral, mas nota que no Sul a chuva não é o principal fator: "Há muitos estrangeiros com residência no Algarve que já utilizavam este serviço no seu país de origem e que acabam por ser clientes assíduos. A procura é muito transversal".
Secar mais em menos tempo
No negócio desde 2013 e com cinco espaços a funcionar no Porto, Ana Soares confirma a clientela cada vez mais diversificada e aponta um maior número de imigrantes recém-chegados, sem alternativa para lavar e secar a roupa. À semelhança da Washstation, que contabiliza quase 70% da procura para secagem face a 30% para lavagem, nas lojas Lava Mais e Lavamos Mais as "secadoras" são as mais solicitadas, mas há cada vez mais clientes a lavar também. "Por norma, o serviço é procurado pela necessidade da secagem. No entanto, durante o verão já existe uma maior procura, porque se tornou confortável levar a roupa já dobrada para casa, o que entre os anos 2014 e 2016 não era tão flagrante. Começa-se a perceber que o cliente precisa de secar, dobrar, levar, colocar no sítio e não ter de fazer o tratamento da roupa em casa. E isso gera uma maior procura", explica a empresária.
Apesar de o serviço não ser necessariamente mais barato [ler texto ao lado], a poupança com energia, água e detergentes, bem como no tempo despendido nas tarefas domésticas, são as reiteradas justificações ouvidas nas lojas. "Muitos dos nossos clientes têm máquina de secar, mas dizem que fica muito mais caro secar em casa. Aqui podem secar mais quantidade em menos tempo: em meia hora conseguem ter a roupa toda seca. Em casa, obriga a períodos de secagem mais longos que consomem mais energia. Esse é o principal argumento e incentivo para as pessoas procurarem este serviço alternativo", conclui Susana Oliveira, proprietária da recém-inaugurada Lavamos por Si, em Valbom, Gondomar.
Para Sidónia Faustino, o tempo é um benefício incontestável. "A maior vantagem da utilização de lavandarias self-service é o tempo que ela entrega a quem tem a vida ocupada e que consegue tratar a roupa de uma semana numa hora."
Mais lavandarias
De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de lavandarias em Portugal aumentou 27% em quatro anos. De 2557 lojas em 2016, o valor passou para 3244 em 2020.
As áreas metropolitanas do Porto e Lisboa concentram a maior oferta, com 661 e 1209 lavandarias, respetivamente.
Conforto nas lojas
A maioria das lavandarias self-service está equipada com wi-fi gratuito e máquinas de venda automática para ocupar os clientes enquanto estes esperam pela roupa. Normalmente, os espaços funcionam com um horário muito alargado (algumas entre as 6 horas e a meia-noite) e com um cartão de cliente, com preços mais vantajosos.
Mercado doméstico
Para fazer frente à mudança dos hábitos de consumo, as marcas estão a desenvolver equipamentos cada vez mais inovadores. Nos próximos meses, a LG vai lançar uma máquina com leitor de código de barras, capaz de ler as etiquetas da roupa e ajustar os detergentes, tempo e tipo de lavagem.
Inverno chuvoso fez crescer negócio
Chuva cria filas à porta das lojas, com clientes a procurarem máquinas de secar pela rapidez
Nos lavadouros comunitários dos tempos modernos, os tanques de pedra e as barras de sabão azul e branco dão lugar a gigantes máquinas industriais de alta tecnologia, com detergentes que prometem proteger as cores e as fibras de qualquer tecido. O esforço físico esfuma-se no ramerrame dos tambores giratórios que laboram quase 24 horas por dia, sete dias por semana. Tratar da roupa nunca foi tão fácil e tão rápido para as lavadeiras, que hoje já não são apenas mulheres, e o único obstáculo é conseguir uma vaga quando chove.
Valbom - É raro não haver fila de espera
Para evitar as filas, Elisa Fernandes costuma ser a primeira a entrar na Lavamos por Si, logo às sete da manhã. Há muito tempo que pedia a abertura de uma loja em Valbom, ao lado de casa, onde até pode ir confortavelmente de chinelos de quarto. É cliente uma vez por semana durante todo o ano. "Em casa, não temos muito espaço. As varandas são pequeninas e, mesmo quando está sol, com a humidade a roupa não seca." Chega com dois grandes sacos de roupa lavada e, em pouco mais de meia hora, estará despachada. "Poupa-me tempo, trabalho, luz e dinheiro. É só benefícios."
Na banca em frente às máquinas, Brígida Vieira dobra a roupa que vai tirando ainda quente da "secadora". Finalmente conseguiu uma vaga. "É rara a vez que não encontre pessoas à espera. Inclusive hoje, já é a terceira vez que venho, e mesmo assim tive que esperar." A azáfama entusiasma Susana Oliveira, proprietária da loja aberta há dois meses, que já "deu graças a São Pedro pela ajuda" no arranque do negócio. "Agora, só peço chuva, quem quiser sol que vá para as Caraíbas", brinca. Na Lavamos por Si, há wi-fi gratuito, mesas e cadeiras, uma zona infantil e máquina de café. Se o negócio correr bem, o próximo passo é instalar uma terceira máquina de secar.
Porto - Tudo "sequinho e cheiroso"
À porta da Lava Mais, na Rua de Santos Pousada, no Porto, o cheiro a roupa lavada cruza-se com quem passa. No interior, Fátima Lázaro introduz o cartão de cliente na ranhura e programa a lavagem. Adepta do serviço há cerca de sete anos, fidelizou-se para usufruir de preços mais vantajosos. Embora nunca tenha "feito contas", garante que poupa muito tempo e, por isso, raramente dá uso ao eletrodoméstico que tem em casa. "Foi uma boa invenção. Incomoda-me profundamente ter roupa suja em casa", ri-se. Já Manuela Cerejo não tem dúvidas de que a ida semanal à lavandaria lhe reduz a despesa mensal, porque consegue lavar e secar grandes quantidades de uma só vez. "A maior parte das coisas não se dá a ferro, para quê? Já levamos tudo dobrado, chegamos a casa e é só pôr nas gavetas", aponta, satisfeita, enquanto dobra a roupa "sequinha e cheirosa".
A necessidade de reduzir a fatura de energia foi o que levou Ana Soares e o marido a abrir a primeira lavandaria self-service, em 2014. Oito anos depois e com cinco espaços a funcionar na Invicta, a empresária acredita que o negócio é uma mais-valia que torna a vida "mais confortável". "O custo-benefício é elevado", remata.
Lavar e secar roupa fora de casa fica três vezes mais caro
Tarefa doméstica sai mais em conta, mas as várias vantagens do serviço e o facto de não ter gastos em máquinas também pesam na escolha.
A oferta de lavandarias self-service acompanha a procura, mas a tarefa pode ficar mais cara nas lojas do que em casa. De acordo com um estudo publicado em fevereiro de 2018 pela revista "Proteste", lavar e secar 16 kg de roupa nas lavandarias ficava 6,62 euros mais caro do que no lar. A Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) visitou 62 estabelecimentos de 25 concelhos do país e concluiu que optar pelo serviço externo custava três vezes mais do que cumprir o trabalho doméstico.
Cinco anos depois do estudo da Deco, chegámos a um resultado semelhante. Vamos a contas. Utilizando como exemplo um consumidor do concelho do Porto com um tarifário simples de energia e no 3.º escalão doméstico de água, uma lavagem de 9 kg pode custar 15 cêntimos, se tivermos em conta apenas o gasto com tarifas de água e eletricidade [ver infografia]. Adicionando um detergente e um amaciador, o valor chega aos 42 cêntimos. Este resultado é obtido sem os custos adicionais da potência contratada, saneamento, resíduos, impostos, aditivos, desperdício e preço da própria máquina.
Numa lavandaria self-service, lavar 16 kg de roupa pode custar mais de seis euros. Com uma máquina de secar de 9 kg, a história repete-se: gasta-se 21 cêntimos durante 160 minutos. Nas lojas, usar uma secadora de 20 kg durante 20 minutos pode valer três euros.
Mas além da matemática, há outros aspetos a ter em conta. Quem usa a lavandaria não investe em máquinas nem gasta dinheiro em reparações, usufrui de detergentes profissionais, poupa tempo com a engomadoria e tem mais conforto. Com tantas variáveis, cada caso é um caso. "É quase injusto fazer uma comparação. É um serviço substituto, mas não é exatamente o mesmo", constata Jorge Lopes. O presidente da Euronics acredita que as lavandarias são uma solução para muitos consumidores e que o mercado doméstico também está cada vez mais exigente com a eficiência do consumo e com a especialização das máquinas.