A casa gandaresa, uma casa-pátio feita de adobe que nos municípios de Vagos, Mira e Cantanhede assume uma implantação em "L", tinha um "crescimento orgânico", adaptando-se à vida da família à medida que esta aumentava ou as necessidades se alteravam.
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A descrição é de Alice Tavares, arquiteta e investigadora da Universidade de Aveiro, que colaborou no projeto Gândara TourSensations, ajudando a elaborar o livro que faz a caracterização das casas gandaresas e um manual de reabilitação a que os proprietários que queiram manter a autenticidade podem recorrer para delinear estratégias.
Estas habitações têm fachada de rés de chão com porta ladeada por uma janela e um portão. Possuem um pátio onde antigamente decorriam atividades ligadas à atividade agropecuária e partir do qual se acedia a currais e espaços de armazenamento de alimentos.
Contudo, há variações regionais e funcionais, que levaram à identificação de seis tipologias na região. "Em Cantanhede, por exemplo, colocava-se um pé direito mais alto", o que se reflete em fachadas mais altas com janelas pequenas em cima. Outras tipologias decorrem de funções diversas, como "o gabinete do médico ou [sala de] costureira" que, por terem atendimento ao público, obrigavam a ter uma segunda porta, especifica a arquiteta.
Materiais da região
Os materiais utilizados na sua construção eram os que existiam na região. A população recorria a adobe, uma espécie de tijolos feitos de "areia com argila e cal", que eram colocados em moldes de madeira para secarem ao sol. Sobretudo em Cantanhede, era frequente usar-se pedra de Ançã, nomeadamente nas portas e janelas.
Um grande elemento distintivo em relação a outras casas tradicionais portuguesas é um "uso muito exuberante da cor, com grandes contrastes", continua Alice Tavares. As cores predominantemente usadas para caiar eram as associadas aos óxidos existentes na região: amarelo ocre, azul cobalto, azul turquesa, verde-água, rosa (velho e carmim), castanho tijolo.
"Atualmente, muitos pintam de branco ou adicionam azulejos industriais. Podem parecer que são meros detalhes, mas são aspetos a ter em conta porque alteram a autenticidade do edifício e a característica da própria região", sublinha a arquiteta, alertando que é preciso "sensibilizar as pessoas para não fazerem alterações sem critério".
A arquiteta considera, ainda, que os municípios devem fazer um planeamento cuidado dos conjuntos habitacionais, avaliando os afastamentos, para evitar que "as casas gandaresas fiquem sozinhas à frente, numa espécie de roda dentada".
* Trabalho realizado no âmbito do projeto "Gândara - Tour Sensations", financiado pela Linha de Apoio à Sustentabilidade - Turismo de Portugal