É em momentos de aperto repentino que a maioria dos portugueses cai nas armadilhas do crédito fácil, seja online, seja dos cartões de crédito, frequentemente com as piores taxas de juro do mercado. Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da Deco, recomenda cuidados redobrados para não criar dívida nesta fase.
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As moratórias de crédito não impedem que se peça créditos novos. Que cuidados aconselham?
As moratórias pressupõem uma redução dos rendimentos de quem as pede, por isso cremos que terão dificuldade em contratar novos créditos, até porque os bancos apertaram as regras. O que é mais perigoso é o uso de cartões de crédito, em que notamos que as pessoas, em alturas difíceis, tendem a gastar até ao limite do plafond, ou a pedir aumento do mesmo.
Essas dívidas são mais difíceis de pagar?
É um crédito mais caro, que se paga em parcelas mais pequenas, por isso muitos não se apercebem do custo total. E quando acabarem as moratórias dos bancos, será mais um encargo a somar às prestações que vão ser retomadas, nalguns casos com agravamento devido à capitalização dos juros [os valores não pagos durante a duração da moratória vão ser somados à dívida e vão fazer crescer os juros a pagar em cada prestação]. Em média, cada português tem dois cartões de crédito, dois créditos pessoais e um crédito hipotecário.
O que é que as pessoas devem fazer então?
Se conseguirem, podem aproveitar este tempo para fazer um pé-de-meia ou criar um fundo de emergência. A maioria não o tem e foi por isso que, logo em março, foram precisas medidas para apoiar as famílias. Podem tentar eliminar dívidas de alguns cartões de crédito ou de crédito pessoal. Devem evitar a todo o custo criar mais endividamento, porque as moratórias vão acabar e podem ficar pior.
Antecipam um aumento do crédito malparado?
Estamos preocupados com o que vai acontecer em três momentos: o primeiro, no final de setembro, quando acabar a moratória da Associação de Instituições de Crédito Especializado, que era a única que abrangia cartões de crédito; depois, em outubro, as pessoas que não pagaram as faturas dos serviços essenciais vão ter de as pagar e as famílias com rendimentos baixos vão ter dificuldades; e, em março de 2021, quando acabarem todas as moratórias. v