A crise da dívida vai criar um novo PREC em Portugal, com o povo a revoltar-se nas ruas, diz Mário Tomé, o coronel que insiste em continuar a ser "major para o povo" e que inventou a frase "os ricos que paguem a crise".
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Em entrevista à Agência Lusa, o "major - coronel" - Tomé, antigo líder da União Democrática Popular (UDP), reforça que nunca como agora fez mais sentido a ideia de pôr os ricos a pagar a crise.
"Não sei se é altura de dizer os ricos que paguem a crise. Que é altura de o fazer, é. (...) Esta crise tem de ser paga por aqueles que beneficiaram dela, que são exatamente os mesmos que a provocaram, e que é a grande finança, a banca. O país inteiro -- e não é só aqui -- trabalha só para a banca e para os seus altos assalariados e para as grandes empresas, que pagam milhões aos Mexias", afirma.
"Eu não sei se esta 'troika' -- ou tríade -- internacional, servirá de base programática para impor a finança e por um só partido. Se calhar é uma especulação, mas sinto-me tentado a pensar nisso", acrescentou Mário Tomé, referindo-se à missão do Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia, que negociaram as condições para que Portugal receba o empréstimo de resgate de 78 mil milhões de euros.
Para Mário Tomé, a crise de dívida soberana que exigiu que Portugal pedisse a ajuda financeira internacional é apenas mais um passo na democracia global de hoje, que esmagou "as conquistas de um século e tal, conquistadas com muito sangue, muito sofrimento, muita luta" e que criará um novo PREC, Processo Revolucionário em Curso.
"Estamos à espera que o PREC recupere a sua dinâmica. Ele vai vir aí. O PREC para mim é a grande referência, e o PREC é a luta das pessoas. E com o mínimo de violência", diz.
"A finança e o capital não têm mais respostas. Não é possível voltar atrás, a não ser com a revolta das pessoas e com as pessoas a tomar conta do poder, de uma forma mais ou menos clara, mais ou menos forte e impositiva", acrescenta.
No PREC, que durou entre o 25 de Abril de 1975 e 1976, as forças e os partidos políticos mais à esquerda em Portugal, - entre as quais a UDP, que hoje é uma associação política - tentaram instaurar o que consideravam ser o "verdadeiro socialismo", numa luta social e política, que nacionalizou terras, indústrias e grupos económicos e financeiros.
Numa actualidade, que, diz Mário Tomé, pisa os interesses dos trabalhadores para transferir o fruto do trabalho "para o capital, para a finança, para os tipos que criam estas crises, que deviam estar todos presos e não estão", o major avisa que "isto não pode continuar assim".
Tomé admite que "uma revolução hoje, em Portugal, sozinho, é impossível", mas afirma que "a revolução é na Europa", e que a Europa está a precisar dela.
"Vê-se na Grécia, na Irlanda. Não por causa da dívida soberana e do pagamento, mas pelas consequências que tem nas pessoas e as pessoas não vão aguentar tudo", alerta.
"PREC para a frente, e o PREC para a frente é a coisa mais linda que há. São as pessoas a conquistarem lenta e calmamente o poder na rua, que é aquele local da democracia. E a Europa está também para ai virada", avisa Mário Tomé.
*Agência Lusa