
Depois de rescindirem os contratos, os trabalhadores chegaram a concentrar-se à porta da fábrica alguns dias
Tony Dias/Global Imagens
Tribunal de Anadia declarou a extinção da empresa Órbita. Segue-se a venda dos bens para pagar a ex-operários e ao Estado.
À segunda foi de vez. A assembleia de credores da Miralago, proprietária das bicicletas Órbita, deliberou na quarta-feira pela liquidação da fábrica de Águeda. O Tribunal de Anadia declarou que a extinção da atividade e os bens da empresa serão vendidos para pagar dívidas. Embora mais atrasado, o processo da Órbita - Bicicletas Portuguesas, Lda., deverá seguir o mesmo caminho.
Já a 20 de novembro, quando os credores se reuniram pela primeira vez no tribunal - uma sessão que viria a ser suspensa para permitir a apresentação de um plano de recuperação -, o administrador da insolvência defendera que "a melhor solução" para a satisfação dos credores seria a liquidação imediata da empresa. Na altura, o advogado da Miralago assegurava que as negociações com o investidor estrangeiro, para a entrada de 1,5 milhões de euros, estavam em fase adiantada e que esse dinheiro iria resolver os problemas de tesouraria.
Três semanas depois, os credores decidiram mesmo pela liquidação, apesar da garantia da administração de ter já chegado a acordo, com contrato assinado e tudo, com um um investidor asiático. "A proposta de reestruturação não convenceu. Era mais do mesmo, era só para continuar a arrastar a situação", declarou ao "Dinheiro Vivo" um dos ex-trabalhadores da Miralago presente na assembleia.
"O plano não é credível. A administração não diz quem é o investidor asiático, pretensamente por razões de confidencialidade, e não é claro que os clientes que lista no plano como estando disponíveis para regressar à Miralago o estejam mesmo. Um deles, contactado pelo administrador de insolvência, negou essa disponibilidade", acrescenta Fernando Matias.
Só três credores votaram a favor da continuidade da empresa, entre eles a Segurança Social. A empresa de Águeda, fechada desde abril, quando perdeu perto de meia centena de trabalhadores que ainda restavam, havia acumulado quase 9,5 milhões de dívidas, sendo que os seus bens estão avaliados em cerca de três milhões.
A expectativa dos credores, e em especial dos ex-trabalhadores, é que, com a liquidação da Miralago, esses bens possam ser vendidos por valores superiores, já que alguns, como os imóveis, estão avaliados pelo seu valor matricial. O maior património da Miralago é a Órbita, empresa que deve, agora, seguir pelo mesmo caminho da casa-mãe, mas resta a marca, conceituada no mercado, e que poderá, eventualmente, ser vendida.
morte anunciada
Morte anunciada
Rescisão da EMEL
A 10 de abril, a EMEL, após meses de queixas de atrasos, anunciou a rescisão do contrato de gestão do sistema de bicicletas partilhadas. Uma notícia que alertou para as dificuldades da Órbita e da Miralago que, nessa altura, já praticamente não tinha trabalhadores, que haviam rescindido por acumulação de salários em atraso.
Processos em tribunal
A Miralago recorreu ao processo especial de revitalização em maio, a Órbita em junho. Os processos estão dependentes um do outro. A administração não conseguiu chegar a acordo com os credores. Seguiu-se a declaração de insolvência. A liquidação permitirá a venda dos ativos para pagar parte das dívidas.
