Corredores turísticos entre os dois países estão a ser negociados pelo Governo. Mercado inglês ainda representa cerca de uma em cada cinco dormidas na hotelaria.
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A imposição de duas semanas de quarentena a todos os que chegarem ao Reino Unido, a partir do próximo dia 8 de junho, anunciada ontem pelo Executivo de Boris Johnson, constitui uma ameaça à retoma gradual do turismo português. No entanto, os governos português e britânico estão já a negociar "corredores bilaterais" para o turismo, a tempo de salvar o verão. Aquele mercado representa uma em cada cinco dormidas na hotelaria nacional, tendo um peso maior em regiões como o Algarve ou a Madeira, onde são responsáveis por um terço do negócio.
No dia em que foi anunciada a quarentena no Reino Unido a qualquer pessoa que chegue ao país por via aérea, marítima ou ferroviária, a imprensa britânica já anunciava a negociação dos referidos "corredores turísticos bilaterais" - semelhantes aos que foram criados nos Balcãs, entre a Estónia, a Letónia e a Lituânia, no início de maio - com países de baixa incidência de covid-19, como Portugal, Grécia, Austrália e Nova Zelândia.
A questão seria, citam jornais ingleses, se esses destinos estariam interessados em receber turistas de um dos países mais flagelados da Europa pela covid-19. O JN sabe que o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) tem estado a negociar um acordo com os britânicos, antes do início do verão.
Interesses recíprocos
"Dados os relevantes interesses recíprocos, o MNE está convicto de que será possível acordar uma solução que assegure esses interesses, tendo designadamente em vista o próximo período estival", confirmou fonte do gabinete de Augusto Santos Silva. Ontem, o ministro admitiu que o país fará "controlos sanitários mínimos" aos turistas que cheguem por via aérea. Resta saber se os acordos virão a tempo de salvar o verão.
"É importante que estes corredores sejam estabelecidos rapidamente, porque os britânicos revelam muita intenção de vir para o Algarve, que é encarado como uma zona "covid free" devido ao baixo impacto da pandemia, mas a época alta está a começar. Para a região, estes meses são tudo o que temos para diminuir as perdas, espero que não se esqueçam disso", comentou Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve.
Enquanto nas cidades, como Lisboa e Porto, a retoma está apontada pelos hoteleiros para setembro, altura em que mais voos recomeçam, no Algarve tudo está nas mãos da Easyjet, da Jet Turbo e da Ryanair, que representam 70% do tráfego de Faro. As primeiras regressam ao Algarve na segunda quinzena de junho e a Ryanair vai retomar em julho.
A própria quarentena é posta em causa pelas companhias de aviação. O CEO da Ryanair considera que é uma medida "ineficaz", até porque os passageiros circulam em transportes públicos para se isolarem voluntariamente. Na Easyjet, pede-se a avaliação regular de medidas como a quarentena "para garantir que não restringem, desnecessariamente, o importante papel que as viagens aéreas têm na recuperação económica do Reino Unido", principalmente quando aplicadas a "passageiros de destinos de baixo risco e pessoas com autorização de saúde".
A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo recorda a dependência de Portugal do transporte aéreo e "opõe-se a quaisquer medidas que limitem a circulação e as viagens".