Dos sucessivos órgãos sociais da Caixa Geral de Depósitos referidos na versão da auditoria da empresa EY, há pelo menos 17 gestores que continuam ligados à banca.
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Segundo um levantamento, efetuado pela Lusa, vários dos gestores que estavam em cargos de topo no período analisado pela auditoria (2000 a 2015), durante as decisões de concessão de crédito que originaram perdas de quase três mil milhões de euros para o banco público, continuam no setor e alguns mantêm-se mesmo na CGD.
É o caso de José Lourenço Soares, que continua a ser secretário da mesa da assembleia-geral do banco, cargo que já ocupa há vários anos. Também Maria João Carioca ocupa o cargo de vogal do Conselho de Administração liderado por Rui Vilar e da Comissão Executiva, de Paulo Macedo. Esta responsável, que chegou a ser presidente da Euronext, assumiu o cargo em 2017.
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Pedro António Pereira Rodrigues Felício, no Conselho Fiscal numa parte do período em análise, é vogal da Caixa BI.
Francisco Bandeira, que chegou a ser vice-presidente da CGD e que liderou o BPN, é administrador do Banco Caixa Geral, em Espanha - entretanto vendido ao espanhol Abanca -, de acordo com a lista dos órgãos sociais que é possível consultar na instituição.
Vários dos anteriores executivos da Caixa transitaram também para outros bancos. Vitor Manuel Lopes Fernandes é vogal do Novo Banco para o mandato 2017-2020, tendo ocupado no banco público o mesmo cargo. Jorge Telmo Maria Freire Cardoso é vogal da administração do Novo Banco, para o mesmo mandato.
António Tomás Correia, que recentemente venceu as eleições para continuar à frente dos destinos da Associação Mutualista Montepio, foi também administrador da CGD entre 2000 e 2002.
Álvaro Nascimento, que foi presidente do Conselho de Administração da Caixa (2013-2016), chegou a ser apontado para presidente do Conselho de Administração da Caixa Económica Montepio Geral.
António Manuel da Silva Vila Cova, que era vogal da CGD, é presidente não-executivo Banco Finantia. José Fernando Maia de Araújo e Silva é administrador executivo do Eurobic para o mandato 2016-2019 e responsável pela área de risco na instituição.
No BCP, está o ex-vogal da CGD Pedro Miguel Duarte Rebelo de Sousa, que é presidente da mesa da assembleia-geral do banco liderado por Miguel Maya e João Nuno de Oliveira Jorge Palma, administrador da instituição.
O Banco de Portugal (BdP) conta também com vários destes administradores, começando pelo governador da instituição, Carlos Costa, que lidera o regulador desde 2010. Foi vogal do Conselho de Administração da CGD entre 2004 e 2006.
Ana Cristina de Sousa Leal, diretora do Departamento de Estabilidade Financeira do BdP, foi também administradora da Caixa, responsável pela área de risco. José de Matos, que foi presidente-executivo da CGD, gere os fundos de pensões do Banco de Portugal, desde 2017.
A Associação Portuguesa de Bancos (APB) conta nos seus quadros com Faria de Oliveira, que foi presidente da CGD e que lidera a associação desde 2012, com mandato até 2020. Norberto Rosa é também secretário-geral da APB, tendo estado na calha para a administração do BCP.
A concessão de créditos mal fundamentada, a atribuição de bónus aos gestores com resultados negativos, interferência do Estado e ineficiências na gestão de risco são os principais problemas apontados pela EY numa versão da auditoria à CGD a que a Lusa teve acesso, datada de dezembro de 2017.
Hoje, a consultora EY afirmou-se apenas vinculada ao relatório final da auditoria à CGD que emitiu em junho de 2018, pelo que documentos como a versão preliminar divulgada esta semana "não devem ser considerados".