O Serviço de Leitura Especial da Biblioteca Municipal funciona como entidade produtora e difusora de materiais de leitura em formatos acessíveis e é procurado sobretudo por deficientes visuais
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O Serviço de Leitura Especial - Gaia Inclusiva da Biblioteca Pública Municipal de Gaia foi criado em 1998 e recebeu o nome de Professor José de Albuquerque e Castro como homenagem a um ilustre gaiense, especialista em escrita braille de renome internacional.
O serviço funciona na cave do edifício da Biblioteca Municipal. "É um mundo escondido, mas que chega muito longe", frisou Susana Vale, coordenadora do serviço, acrescentando que era o necessário para albergar todo o material, que ocupa muito espaço: «Os Maias», por exemplo, é uma obra composta por 18 volumes; «Guerra e Paz» são 47 volumes; e ainda o estúdio de gravação ou o espaço do scanner.
O serviço envia para o seu público os materiais físicos, CD, audiolivros, ou livros em braille pelo correio
Trata-se de uma área de fácil acesso que foi reforçada com as obras de reabilitação da Biblioteca Municipal. Susana Vale destacou a nova sinalética escolhida e posicionada para leitura braille e a introdução de um novo elevador com portas telescópicas.
O tempo passou e as necessidades do Serviço de Leitura Especial alteraram-se. "Depressa percebemos que era necessário interiorizar o conceito de biblioteca inclusiva, uma estrutura capaz de responder à diferença e de incluir essa diferença. Isto porque a população com deficiência visual é muito heterogénea, e as necessidades são muito diferentes de pessoa para pessoa, logo as soluções de leitura têm de ser diferentes, o que nos obriga a ter medidas adaptativas para responder às várias necessidades", sublinhou.
Foi assim que surgiu a vontade de produzir materiais para essas pessoas. Em 2006, o serviço candidatou-se a fundos europeus para fazer avançar o projeto, e na mesma altura surgiu o Gaia Inclusiva, que permitiu fazer avançar o Serviço de Leitura Especial na biblioteca. Funciona como uma entidade produtora e difusora de materiais de leitura como uma plataforma, uma estrutura de produção a três níveis: áudio, braille e digital. "Para além disso, temos um modelo de utilização baseado na flexibilidade e na acessibilidade, ou seja, ir ao encontro do público e não ficar à espera", disse.
O serviço envia para o seu público os materiais físicos, CD, audiolivros, ou livros em braille pelo correio. Atualmente, o mais trabalhado é o digital. "Devido à crescente evolução das tecnologias, conseguimos chegar muito mais longe e a mais pessoas. Neste caso, enviamos o livro digital por correio eletrónico, o utilizador recebe o ficheiro Word no computador e pode ouvi-lo através dos leitores de écrã - uma voz sintetizada, que alguns programas já têm". Com este meio, o serviço já tem utilizadores não apenas em todo o território nacional, mas também em Espanha, Brasil, Itália, França e República Checa. Estes livros digitais já não são devolvidos à biblioteca, como os restantes.
Atualmente, o serviço tem 1.150 utilizadores inscritos em todo o país. "Temos muitos utilizadores no sul do país, os nossos mais novos inscritos são de uma escola de Lagos, três meninos dos 3.º, 5.º e 8.º anos. Mas, a maioria é uma população muito envelhecida e com poucos recursos", referiu. Na altura da inscrição, além dos dados de identificação, "solicitamos sempre um documento comprovativo de deficiência visual, a certidão multiusos, que atesta a incapacidade da pessoa. Fazemos isso porque temos de ter garantias de que essa pessoa precisa realmente de materiais alternativos", explicou.