Para ajudar a minimizar o impacto da pressão imobiliária que está a tomar conta de toda a zona, criou-se o Parque do Vale de S. Paio. Com apenas três hectares - futuramente terá cinco - o espaço funciona como um complemento à reserva natural.
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O Estuário do Douro é a "joia da coroa", admite Francisco Saraiva, gestor de projetos da Câmara Municipal de Gaia. Esta foi a primeira Reserva Natural Local do país, criada logo que saiu a legislação que a tornou possível. Em 2019, foram inaugurados os dois observatórios de aves e o centro interpretativo, visto este ser um local de passagem e nidificação de muitas aves migratórias, e não só. "É uma espécie de estação de serviço", brinca o também arquiteto.
O "pequeno parque em frente à reserva é quase uma extensão do estuário", que só pode ser usufruído à distância ou nos passadiços construídos para o efeito. O Parque do Vale de S. Paio "foi pensado para o usufruto das pessoas, que ali podem passear, fazer piqueniques, exercício". Desenhado pelo arquiteto paisagista Sidónio Pardal, o mesmo que projetou o Parque da Cidade do Porto, tem mesmo algumas estruturas similares, em pedra. Antes, "aqui era um silvado que estava um pouco degradado. As pessoas não entravam. Havia mato e lixo. Foi transformado num prado de sequeiro, com a intenção de minimizar o consumo de água. É um prado que fica mais verde no inverno e mais seco no verão, seguindo os ciclos da própria natureza". E neste prado nascem flores selvagens e passeiam borboletas.
A primeira fase foi inaugurada em 2021 e, nos próximos tempos, o parque vai estender-se até aos cinco hectares. "É importante haver estes espaços, pois vivemos em cidades cada vez mais compactas e impermeabilizadas. É fundamental para a saúde ter mais natureza à volta." Este vale era antes ocupado por quintas. Agora começam a multiplicar-se as urbanizações, como uma que está mesmo no cimo de umas escadas de madeira que a ligam ao parque. "Ali funcionava a seca do bacalhau, trabalho feito principalmente por mulheres da Afurada." Os parques e as suas envolventes têm muita história a descobrir.
E Paulo Faria, técnico que recebe os visitantes na Reserva Natural, quer desmistificar a ideia de que o parque é só para se observar aves. "Elas são apenas a pontinha do icebergue. Antes, só cá vinha quem gostava de aves. Quem não gostava sentia-se deslocado. Mas aqui tem de tudo: outro tipo de fauna, flora, parte cultural e histórica, que estamos a tentar potenciar." Por ali passou, por exemplo, o botânico sueco Pehr Löfling, em 1751, enviado pelo seu mestre, Lineu, cuja classificação científica de animais e plantas ainda hoje se utiliza. Löfling descobriu neste local a planta Silene portensis, "a única que recebe o nome da cidade do Porto".
Parque do Vale de S. Paio/Reserva Natural Local do Estuário do Douro
Centro de Interpretação
Tel.: 227 878 120
Das 9h às 18h, de quartaa segunda (até setembro); das 9h às 17h (de outubro a março)