Filha de um mestre de traineira da Afurada, a peixeira Rosa Alexandre subiu na vida a pulso. Recentemente, concretizou o desejo de ter um restaurante. Pessoalmente, prefere-o miúdo, hábitos de infância, mas no Rainha do Peixe, nome dado pela própria, é o robalo que mais se vende.
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Passaram oito anos desde que Rosa Alexandre abriu a banca de peixe no Mercado da Afurada até ao final do ano passado, quando um dos seus maiores desejos se concretizou: abrir um restaurante dedicado ao peixe. Entretanto, abriu também uma ostraria no renovado Mercado do Bolhão, que vende mais de meia tonelada de ostras por mês.
O Rainha do Peixe inaugurou a 4 de outubro, depois de meses de muito trabalho, não na sua Afurada natal, mas ao lado, no Canidelo, mesmo em frente à praia. E ainda nem um ano passou e já é um dos mais frequentados restaurantes da zona. E fê-lo com a ajuda dos dois filhos - Fábio e João - e da nora Andreia. "Eles [os filhos e o marido] não queriam, diziam que era uma carga de trabalhos. Discutimos a situação. Mas eu quis e nada se faz sem trabalho."
E Rosa, filha de pescador, pode bem dizê-lo. Tirou o curso de modista e trabalhou como costureira, mas com um filho aos 19 anos, aquele ofício não chegava. "Comecei com um carrinho pequeno aqui pela marginal a vender peixe, comprava aos pescadores, em Matosinhos, em Espinho. Na Afurada, comprava peixe miúdo. Quando pensei voltar atrás, já gostava tanto disto que já não quis." Chegou a vender peixe numa garrafeira no Porto e teve uma banca no Mercado do Bom Sucesso, até que conseguiu uma mesmo na Afurada, dando lá continuidade à distribuição e à venda ao público.
Quando abriu uma ostraria na nova fase do Mercado do Bolhão, Rosa Alexandre foi convidada para ir ao programa de televisão "Alô Marco Paulo". Mas antes de estar em frente às câmaras, teve uma longa conversa com o cantor, falecido o ano passado, que lhe disse, "Rosa, ser uma peixeira e não ter um restaurante não pode ser!".
O estímulo foi ao encontro de um desejo que já tinha e quando lhe falaram daquele espaço junto à praia de Salgueiros, decidiu avançar. O filho João Rodrigues deixou o trabalho como camionista para ajudar na empreitada: "Nunca tinha estado nesta área e foi tudo uma questão de aprendizagem rápida", conta. Sendo a família da Afurada, queriam replicar ali o conceito dos restaurantes locais onde se grelha o peixe à porta, "mas de uma forma mais sofisticada e com atendimento diferenciado", diz João.
Na grelha está Luis Díaz, colombiano que trocou a profissão de assador de frango na sua terra para assador de peixe, ofício que aprendeu rápido. "Não tinha experiência, mas aprendeu e desempenha muito bem o seu trabalho", assegura João. "Está connosco desde o início." Das suas brasas saem os peixes frescos do dia, que mudam conforme o que está disponível. Por esta altura não faltam sardinhas, que este ano estão "com um sabor maravilhoso." Mas o ex-libris da casa é o robalo, que nunca falha, e que está igualmente disponível em arroz ou massada. "Temos também peixes grandes como o peixe-galo, garoupa ou cherne. Um dos acompanhamentos mais pedidos é a açorda de ovas."
A qualidade reflete-se numa casa constantemente cheia. "É um orgulho chegar ao final deste tempo e perceber que isto funcionou, que ainda tem pernas para andar e que concretizámos com sucesso um desígnio da nossa mãe." A mãe Rosa, essa continua a vida de trabalho: "Levanto-me às 5 da manhã, vou para Matosinhos, descarrego o peixe, mando arranjar para aqui, vou entregar. Trabalho muito, mas eu sou feliz, gosto de ser uma patroa trabalhadora, de fazer parte". Emocionada, conclui: "Tenho orgulho no que construí. Saiu-me tudo do corpo, não sei como dizer de outra maneira".
Rainha do Peixe
Avenida da Beira-Mar, 1667, Canidelo, Vila Nova de Gaia
Tel.: 933 263 913Web: instagram.com/restaurante_rainhadopeixe
Das 12h às 15h e das 19h às 22h30, de terça a sábado; até às 15h ao domingo
Preço médio: 25 euros