Dar a conhecer a gastronomia, cultura e património de algumas das 27 aldeias de xisto - num território que se estende entre Oliveira do Hospital e Vila de Rei, Fundão e Lousã - é o intento do Xclusive Xisto, dinamizado pela associação ADXTUR. Há quatro datas a caminho, com fins-de-semana “tudo incluído”.
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Um concerto de jazz com Mário Laginha ao piano, na setecentista Igreja Matriz de Aldeia das Dez, e um jantar de seis momentos assinado pelo chef Michelin do restaurante Mesa de Lemos Diogo Rocha animaram, no fim de semana de 25 a 27 de abril, aquela aldeia do concelho de Oliveira do Hospital (Coimbra), na primeira data do Xclusive Xisto aberta ao público em geral. A iniciativa da associação ADXTUR, que entretanto se estendeu à aldeia de Figueira (Proença-a-Nova) no fim de semana de 9 a 11 de maio, terá quatro futuras datas, sempre ao fim-de-semana, com programas focados na gastronomia, cultura e património da região.
As próximas edições do Xclusive Xisto, tornado realidade sob o lema "Só se vive uma vez, de cada vez", são a “Há tanto para aprender com a natureza” (30 de maio a 1 de junho), em Aigra Nova, Góis; “Da arte da broca e do queijo à pica no forno” (6 a 8 de junho), em Sobral de São Miguel, na Covilhã; “Viagem guiada à luz das estrelas” (20 a 22 de junho), em Fajão, Pampilhosa da Serra; e “Capturar a magia do Universo” (22 a 24 de agosto), também em Fajão. Todos os programas incluem duas noites de alojamento, dois jantares e um almoço, tal como atividades na respetiva povoação. Os preços rondam os 200 a 300 euros por pessoa.
No fim de semana em que se assinalou a conquista da liberdade democrática no país, os participantes - alojados no Hotel Rural Quinta da Geia, no coração da Aldeia das Dez - tiveram oportunidade de conhecer de perto o trabalho do chef Diogo Rocha, que detém uma estrela Michelin no seu Mesa de Lemos, em Passos de Silgueiros, Viseu, e uma Estrela Verde do Guia, em virtude da sustentabilidade do projeto. Foi a primeira vez que um chef com tal distinção participou neste evento, o que o próprio considerou desde logo “um fator diferenciador” e que veio conferir à experiência um certo grau de “sofisticação”.
“Um evento como este é muito mais do que o que acontece só na mesa. Tem a ver também com o facto de juntarmos um certo glamour a estes territórios, muitas vezes associados à ruralidade, e que não são bem assim”, comentou, no final do jantar, à Evasões. A preparação do evento foi um desafio logístico, uma vez que o chef está habituado a servir apenas 20 pessoas e ali serviu o dobro, e uma enriquecedora troca de experiências. Não por acaso, um dos pratos - pernil de porco com míscaros - resultou do empenho conjunto entre Maria do Céu, cozinheira de mão cheia e residente da aldeia, e a equipa de Diogo Rocha.
“O engraçado destas experiências é haver uma mistura de ambientes e de pessoas”. Sobre o menu, o chef, que trata por tu os produtores locais, explicou que a preparação é a chave para que tudo corra bem. “Gosto sempre que me deem algumas referências” [face aos produtos que devem constar no menu], “porque tem de se perceber que estamos na Aldeia das Dez, que há uma identidade” própria do país. No menu de seis momentos, harmonizado com vinhos da Bairrada, houve ainda truta fumada e espargos; “a revolta dos legumes”; borrego de leite e castanhas de conserva; e pudim de queijo Serra da Estrela DOP, mel e maçã da Beira.
Na manhã do dia seguinte, os participantes no fim de semana “O Autêntico está à prova com estrela Michelin” puderam descobrir a beleza granítica da “aldeia miradouro” guiados por Carlos Castanheira, presidente da Junta de Freguesia de Aldeia das Dez, com cerca de 500 habitantes; almoçaram no restaurante A Malga e à tarde partiram à descoberta do património religioso da freguesia. Nele destaca-se o Santuário de Nossa Senhora das Preces, em Vale de Maceira, cujo apogeu arquitetónico foi atingido no século XIX com a fonte monumental, as Capelas da Paixão, a Casa do Peregrino e com a plantação da frondosa mata adjacente.
À noite, por causa das condições atmosféricas, a Igreja Matriz fez as vezes do Solar Pina Ferraz como palco do concerto de Mário Laginha, integrado no XJazz. Trata-se de um ciclo de jazz nas Aldeias do Xisto, que convida artistas nacionais e estrangeiros a “imergir na realidade das aldeias, cruzando a identidade cultural, as paisagens e as artes sonoras”. A iniciativa une a Rede das Aldeias do Xisto e o Jazz ao Centro Clube, de Coimbra. A próxima atuação será do coletivo de percussão e gamelão liderado por Will Guthrie, o Ensemble Nist-Nah, durante o fim de semana de 20 a 22 de junho, na Praça da Cadeia, em Fajão, Pampilhosa da Serra.
O programa Xclusive Xisto contempla um conjunto de experiências “exclusivas e imersivas”, nas palavras de Rui Simões, diretor executivo da ADXTUR, concebidas para grupos entre 12 a 20 pessoas, e procura “promover um contacto profundo com a natureza, a cultura e a população local” de cada uma das aldeias de xisto abrangidas. As experiências podem incluir opções tão distintas como workshops de cerâmica e observação de estrelas, degustações gastronómicas com chefs de referência e atividades de educação ambiental em família. Toda a programação encontra-se online. As reservas são realizadas na plataforma Bookinxisto.