Digam o que disserem, o verão será sempre a minha estação do ano favorita. Os dias mais longos, as roupas mais curtas, o calor do sol e a frescura da água são um verdadeiro bálsamo.
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Dificilmente consigo identificar razões concretas que expliquem a minha adoração pela estação quente, mas sei que, do ponto de vista anímico e psicológico, é o verão que mais me dá alento. Felizmente, cedo me habituaram ao ecossistema costeiro, desde que comecei a fazer praia em família, na praia da Raposa, no Carvalhal, Grândola. Perante a escala das ondas que nela iam rebentar, vindas do Atlântico aberto, foi fácil aprender a respeitar o mar e a saber avaliar o risco de entrar na água, o quando e o como, não sem usar um colete quando ainda era uma criança. Entre os mergulhos, passava horas na areia absorto nas brincadeiras com tratores e cabanas.
A habitual quinzena de férias - uma epopeia familiar marcada por bagagens em excesso e pela travessia nos já velhinhos, mas icónicos, ferries entre Setúbal e Troia, no início dos anos 2000 - incluía manhãs e tardes na praia; banhos ao final da tarde, já à sombra, numa pequena piscina com água tépida graças a uma lona de plástico; e um bronzeado saudável, evidente na hora do lusco-fusco após o banho. Noites em que o calor exalava da terra, entrecortadas com outras de brisa húmida marinha que pediam um casaco leve, enquanto as cegonhas davam de comer às crias no ninho empoleirado na torre do sino da igreja, e a caruma dos pinheiros forrava o chão.
Foi naquele areal que, provavelmente, aprendi a gostar de fazer praia e de me entregar ao ócio promovido por uma toalha estendida debaixo do guarda-sol. Mas não há como falar de areia e mar sem viajar até à minha Arrábida, essa pérola feita Parque Natural e cenário paisagístico de vidas tão banais quanto cinematográficas. Não vou tão longe ao comparar a língua de areia da praia da Figueirinha (desconfiando de que possa já não existir, durante a maré baixa) às praias das Maldivas, mas há certamente uma aura paradisíaca naqueles lanços de areia com água de cor azul-turquesa (e fria!), rodeados de rochas e floresta mediterrânica, com cigarras a cantar.
O verão brinda-nos com um caleidoscópio de cores, dos azuis esverdeados do mar à paleta de tons queimados do pôr do sol, que outra estação dificilmente consegue repetir. É desta mistura de cor e calor, de pele beijada pelo sal marinho e adocicada pelo óleo hidratante após o banho, que se pintam os meses de estio. Claro, não sem os dias de canícula que a todos amolece e que ultrapassam o limiar das temperaturas saudáveis. Por isso, o verão é melhor quando não é de extremos; quando abraça e aquece de maneira prazerosa e convida a mergulhos ao final do dia que ajudam a esquecer as agruras da vida. Nem todos terão de o apreciar, mas eu adoro-o.