Uma carta curta, de sabores caseiros e intensos, harmonizados com vinhos especiais, traz à pequena sala do Nani Bistrot uma amostra do que seria servido em casa de uma avó do Cáucaso.
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Nani, em arménio, é uma forma carinhosa de se chamar a avó, e por isso um nome apropriado para um bistrô que quer replicar a experiência de uma refeição caseira e familiar, como só uma nani sabe fazer. A premissa é reforçada pelo ambiente acolhedor e descontraído, com tapetes no chão - e um pendurado na parede, como é tradição na Arménia e na Geórgia -, e pratos vintage com motivos florais, que lembram a casa da avó. Os pratos foram encontrados em vários antiquários pelo país. Já as receitas que neles chegam à mesa foram recolhidas em entrevistas a essas avós do Cáucaso. “A paklava é uma receita de família do Árman, um dos donos do restaurante, que é natural da Arménia”, informa Becruzo Bou, responsável pela comunicação do Nani Bistrot, trazido para o quarteirão das artes há pouco mais de um ano, pelos mesmos sócios que criaram o Alto Porto, onde o foco é uma cozinha internacional, com diversas influências.
No Nani, a ideia foi destacar a hospitalidade e a gastronomia do sul do Cáucaso, da forma “mais autêntica possível”, reforça Becruzo, em pratos cheios de sabor, que convidam à partilha e a comer com as mãos. Falávamos da paklava, uma sobremesa feita com massa folhada, nozes e especiarias, mas comecemos por uns rolinhos de beringela grelhada, que envolvem um recheio cremoso de queijo e nozes, e são regados com um molho de romã. É uma das muitas opções vegetarianas do menu, e um prato que compõe habitualmente a mesa daquela região, a par do khachapuri, um pão georgiano recheado com queijo. O estilo Adjário tem a forma de um barco e traz um ovo no topo, enquanto o Megreliano leva duas camadas de queijo. Ambos devem comer-se com as mãos, retirando pedaços do pão leve e fofo e mergulhando-os no queijo derretido. O queijo - feito ali mesmo - os frutos secos, as ervas aromáticas e as especiarias - em misturas como a tradicional Khmeli suneli georgiana, que por vezes levam até vinte ingredientes - compõem a base desta cozinha apurada.
Os khinkali são outro exemplo da comida de conforto georgiana: espécie de dumplings recheados com um caldo saboroso e carne, ou com queijo e ervas. Para os comer, devemos pegar com a mão pela ponta do embrulho, que depois é descartada. “As mulheres dos mineiros georgianos lembraram-se de fazer isso para que eles pudessem comer com as mãos sujas do trabalho”, conta-nos Becruzo.
Na carta, curta mas assertiva, cabem ainda outras especialidades como o lóbio arménio - à base de feijões lentamente cozidos em molho de tomate, ervas e especiarias -, as carnes grelhadas e pratos sazonais, como o dolma, que consiste em folhas de videira recheadas com carne de vaca, arroz e hortelã.
Para beber, além do refrescante kompot - uma bebida que resulta da fervura de diversas frutas em água - o protagonismo vai para os vinhos da Geórgia e da Arménia, país onde foi descoberta uma unidade de produção de vinho com mais de seis mil anos. A lista vai variando, dando palco a pequenos produtores, com destaque para os vinhos laranja georgianos, mas também brancos e tintos produzidos em talhas que repousam vários meses debaixo da terra. Vinhos especiais, para pratos especiais.
Nani Bistrot
Rua da Torrinha, 86A, Porto
Tel.: 934258359
Web: naniporto.pt
Das 12h às 17h e das 19h às 23h, de quarta a segunda
Preço médio: 20 euros