A Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas estima que a comunidade emigrante tenham investido no país 122 milhões de euros e criado 72 postos de trabalho. O JN dá-lhe a conhecer as empresas criadas por André Jordão, de 34 anos, que viveu entre a Alemanha e Portugal, e Manuel Soares, 55, a viver em Paris.
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Empresa em há mais animais do que pessoas
André Jordão criou uma empresa de refeições personalizadas para cães que já chegam a Espanha e Itália
A empresa "startup", com montra digital, de fornecimento de comida ao domicílio e consultadoria em saúde para cães, sediada no Porto, reúne uma equipa de 22 pessoas (que inclui funcionários espanhóis e italianos) e uma carteira de clientes superior a 15 mil pessoas. As entregas à porta de casa já chegam a Espanha e Itália.
Barkyn, a firma de André Jordão, 34 anos, um dos dois fundadores da empresa - criada em fevereiro de 2017 - possui várias particularidades. Desde logo, ter mais animais do que pessoas na equipa. Só André Jordão tem dois cães. Os bichos podem acompanhar os donos num dia de trabalho no escritório que está devidamente apetrechado para os receber.
Foi preciso muita experimentação, muita persistência
Afinal, eles são a inspiração diária para o negócio. Os dois sócios eram clientes de lojas de animais e lembraram-se deste serviço porque sentiam falta de especialização: a oferta alimentar seguia um regime padrão.
Depois, "dedicaram-se a explorar a ideia. Foi preciso muita experimentação, muita persistência".
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A principal mais-valia é que o dono do animal recebe em casa, através de uma transportadora, uma caixa com a ração adequada para o seu animal, que tem em conta a sua idade, entre outros aspetos, e onde consta inclusive o nome do bicho. O pacote popular custa 25 euros e o premium 45 euros. A plataforma disponibiliza ainda um veterinário para retirar dúvidas sobre o bem-estar do cão.
Em dois anos, a empresa conseguiu alargar o eixo de atuação para Espanha e, há dois meses, chegou a Itália. O apoio veterinário também cresceu e ganhou dois polos extra: além de Lisboa e Porto, Alicante e Milão.
Jordão, formado em Tecnologia de Informação pela Universidade de Aveiro, viveu de 2013 a 2015 entre Hamburgo e Berlim, onde criou um projeto de mobilidade e transporte de passageiros, em modelo "startup". Entretanto, o negócio - que tem mais de 100 trabalhadores e ligações a empresas de automóvel de topo - expandiu-se para a Europa de Leste e Filipinas. Jordão deixou a gestão, mas mantém-se acionista.
Durante dois anos, o jovem viveu entre a Alemanha e Portugal. O regresso deveu-se a motivos pessoais: teve uma segunda filha e sabia que podia ser melhor para a família habitar numa cidade como o Porto, "onde o ambiente cosmopolita ainda não sofre com a pressão e o stress das multidões, há ainda um bom equilíbrio, e se pode ter qualidade de vida".
O projeto não teve apoio inicial do Gabinete de Apoio à Diáspora. Foram contactados mais tarde e estudam agora a possibilidade da internacionalização.
Mármores de Viana nas lojas Yves Saint Laurent
Manuel Soares resolveu deslocar uma empresa dos arredores de Paris para Portugal e já vai em três unidades fabris
Das fábricas de mármore de Manuel Soares, localizadas em Viana do Castelo, partem as peças que decoram as lojas Yves Saint Laurent e muitos hotéis de luxo cinco estrelas em vários pontos do globo. "O mármore de todas as lojas Yves Saint Laurent sai de Viana do Castelo", declara o emigrante de 55 anos, natural de Sever do Vouga, Aveiro, que vive entre Paris, onde tem a sede da empresa, e Portugal. É frequente passar metade da semana em Paris e outra metade entre Viana e Aveiro.
Manuel Soares, proprietário de "Real Marbre" , "Mineral System", entre outras, é emigrante desde 1982 - tinha 17 anos - e desde 1988 que é proprietário de uma empresa de mármores para decoração, em Paris, onde trabalham também designers e arquitetos, e que foi crescendo, através de parcerias com unidades de produção localizadas em Itália, Grécia, China.
Há cinco anos, conjugaram-se as circunstâncias para que instalasse uma fábrica de produção e transformação tradicional de mármore em Viana do Castelo. Tinha na altura uma pequena indústria nos arredores de Paris e pareceu-lhe boa ideia deslocalizá-la. Um ex-funcionário, entretanto regressado a Portugal, que estava disponível para colaborar neste investimento, juntou-se à oportunidade.
Sobre o apoio recebido por parte do Gabinete da Diáspora, aponta sobretudo o papel de facilitador de contactos. No seu caso, teve o privilégio de conhecer o secretário de Estado, José Luís Carneiro, que lhe apresentou diretamente o presidente de Câmara de Viana do Castelo, que depois lhe forneceu contactos e orientações para o tratamento da parte burocrática. O terreno foi adquirido à Câmara e teve apoios fiscais desta.
Avançou, entretanto, para outra unidade fabril vocacionada para a produção de painéis de mármore através de uma técnica inovadora designada "favo de abelha", em alumínio, que oferece a mesma qualidade estética ao material e melhores capacidades técnicas.
A chave para o êxito foi nunca ter ficado sentado no nosso sucesso
Nas duas fábricas portuguesas trabalham já mais funcionários do que em Paris: 48, enquanto na sede estão 35 funcionários. Este ano, avançou para um investimento superior a três milhões de euros na construção de terceira unidade.
A chave para o êxito? "Nunca ter ficado sentado no nosso sucesso, dar sempre um passo em frente". Houve riscos pelo caminho? "Há sempre risco". Trabalham com ele um genro e dois sobrinhos.
As duas filhas preferiram outras profissões: uma é médica e outra frequenta a universidade em França. A mulher tem sido peça fundamental neste percurso.