Declarações antissemitas polémicas nas últimas semanas têm manchado a reputação de Ye, mais conhecido como Kanye West, ex-marido de Kim Kardashian. Várias marcas romperam colaborações com o músico e estilista de sucesso, entre as quais a Adidas, a Peloton e a Apple Music.
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O primeiro sinal de uma queda financeira eminente começou no início deste mês, quando a Adidas anunciou uma revisão da colaboração com Ye e a sua marca Yeezy, após o músico ter provocado indignação ao usar uma camisola onde se lia "WHITE LIVES MATTER", no desfile da Paris Fashion Week.
When you see the scale of the hatred evoked by Kanye West wearing a White Lives Matter shirt, you understand that white lives mean nothing to a lot of people. If we want to survive, we have to start taking our own side. pic.twitter.com/gjiSiCI4GC
- Way of the World (@wayotworld) October 4, 2022
Nos dias seguintes, Ye fez comentários antissemitas no Instagram e no Twitter, provocando restrições das suas contas e levando-o a anunciar a compra do Parler, uma rede social que ganhou popularidade entre os conservadores norte-americanos próximos do ex-presidente Donald Trump.
Semanas depois, Ye, que disse que alguns dos seus comportamentos erráticos anteriores se deviam a um transtorno bipolar, lançou-se numa diatribe de dez minutos no podcast "Drink Champs", onde repetiu declarações antissemitas. Na mesma entrevista, alegou que George Floyd, um homem negro morto pela polícia de Minneapolis, havia sucumbido por causa de uma injeção de fentanil.
Os comentários de Ye representaram um desafio particularmente sensível para a Adidas, cujo fundador, Adolf Dassler, pertenceu ao Partido Nazi e que equipou a Juventude Hitleriana.
Semanas de silêncio e de pressão pública
Uma onda de indignação e pressão contra a Adidas surgiu no fim de semana, quando grupos de ódio começaram a usar Ye nos seus discursos. No sábado, um grupo antijudaico exibiu uma faixa sobre um viaduto de Los Angeles que dizia: "Buzine se sabe que Kanye está certo sobre os judeus".
Kanye"s awful antisemitic remarks continue to pose a dangerous threat to every Jew and inspire more vicious antisemitism, including banners saying "honk if you know" and "Kanye was right about the Jews" that were hung over an LA highway. pic.twitter.com/3CXo2t9J3l
- Ted Deutch, CEO of American Jewish Committee (@AJCCEO) October 24, 2022
Celebridades, líderes políticos e organizações judaicas condenaram o artista e criticaram a Adidas por continuar a fazer negócios com o músico. A própria ex-mulher de Ye, Kim Kardashian, apoiou, através do Twitter, a comunidade judaica. "Discurso de ódio nunca é bom ou desculpável. (...) Peço que a terrível violência e a retórica odiosa em relação a eles [judeus] cheguem a um fim imediato".
Hate speech is never OK or excusable. I stand together with the Jewish community and call on the terrible violence and hateful rhetoric towards them to come to an immediate end.
- Kim Kardashian (@KimKardashian) October 24, 2022
Na semana passada, o próprio Kanye West desafiou a Adidas a romper a colaboração. "Posso dizer coisas antissemitas - e a Adidas não pode deixar-me", disse o rapper. Porém, após semanas de silêncio, a empresa alemã Adidas anunciou que iria "terminar imediatamente a produção de produtos da marca Yeezy e interromper todos os pagamentos a Ye e às suas empresas". A Adidas "não tolera antissemitismo e qualquer outro tipo de discurso de ódio", disse a empresa, em comunicado. "Os comentários e ações recentes de Ye foram inaceitáveis, odiosos e perigosos".
A Yeezy gerava cerca de dois mil milhões de dólares por ano, cerca de 10% da receita anual da empresa. Segundo a Adidas, a separação custará à empresa 250 milhões de euros (248 milhões de dólares) este ano. Por sua vez, sem a colaboração, Ye deixa de ser multimilionário. Segundo a "Forbes", 1,5 mil milhões de dólares (1,49 mil milhões de euros) do património líquido do músico estava vinculado ao acordo com a Adidas, enquanto 400 milhões de dólares (399 milhões de euros) surgem de imóveis, dinheiro, o catálogo de músicas do artista e uma participação de 5% na Skims, empresa de Kim Kardashian.
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Escoltado da Skechers de Los Angeles
Na quarta-feira, a marca de calçado Skechers viu-se forçada a escoltar Ye dos seus escritórios em Los Angeles depois de o artista ter aparecido "sem aviso prévio e sem ser convidado". A empresa acrescentou que "não tinha intenção" de trabalhar com o rapper e designer.
Em comunicado, a marca afirmou que Ye chegou aos escritórios com um grupo e que estava "envolvido em filmagens não autorizadas". "Condenamos os seus recentes comentários divisivos e não toleramos antissemitismo ou qualquer outra forma de discurso de ódio. Ressaltamos novamente que West apareceu sem aviso prévio e sem ser convidado", rematou.
Outras marcas que se afastaram dos escândalos
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A Adidas não é a única marca a cortar relações com Kanye West. Nas últimas semanas, várias empresas - incluindo a casa de moda francesa Balenciaga, JPMorgan Chase, a agência de talentos CAA e o produtor de Hollywood MRC - terminaram acordos com o artista. Também um porta-voz da "Vogue" disse à "Page Six" que a revista e a editora-chefe Anna Wintour vão deixar de trabalhar com Ye.
Na segunda-feira, a Gap, que terminou a sua parceria com Ye no mês passado, anunciou que vai retirar todo o stock da Yeezy Gap das lojas e fechar o site da linha.
No dia seguinte, a Peloton, empresa de fitness em casa por subscrição, decidiu suspender as músicas de Kanye West na plataforma. "Levamos este problema muito a sério e podemos confirmar que a Peloton largou indefinidamente o uso da música de Kanye West na nossa plataforma. Isso significa que os nossos instrutores não estão a usar a sua música em nenhuma aula recém-produzida e não estamos a sugerir nenhuma aula que inclua a sua música", lê-se num comunicado da empresa.
Também esta semana, a Madame Tussauds, em Londres, removeu a estátua de cera de Ye. "Cada perfil ganha o seu lugar no Madame Tussauds London e ouvimos os nossos convidados e o público sobre quem esperam ver na atração", explicou um porta-voz do museu ao "The Guardian".
Já esta quinta-feira, a "Billboard" avançou que, apesar de manter no seu catálogo os álbuns de Kanye, a Apple Music apagou a playlist "Kanye West Essentials Playlist", que incluía os maiores êxitos do rapper. Por sua vez, o Spotify criticou, em entrevista à "Reuters", os "comentários péssimos" de Ye, mas disse que não ia retirar a sua música da plataforma porque "não violam" as políticas anti-ódio da empresa.
Álbuns de sucesso e dezenas de prémios
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Nascido em 1977, Kanye West, ou Ye, é produtor, rapper e designer de moda norte-americano. O seu primeiro álbum solo, "The College Dropout", lançado em 2004, foi um enorme sucesso: as vendas dispararam e os críticos mencionaram a sua sofisticação sonora e jogo de palavras inteligente. Com músicas como "Through the Wire" e "Jesus Walks", Ye ganhou um Grammy de melhor música de rap em 2005 e também prémios de melhor álbum de rap e melhor música de ritmo e blues.
Com uma personalidade extravagante, West rapidamente alcançou o estrelato. O segundo álbum, "Late Registration", lançado em 2005, repetiu o sucesso comercial do primeiro - com vários singles de sucesso, incluindo "Diamonds from Sierra Leone" e "Gold Digger". O terceiro lançamento, "Graduation", em 2007, produziu os singles de sucesso "Good Life" e "Stronger". Em 2008, West lançou "808s and Heartbreak", um álbum que se concentrava em sentimentos de perda pessoal e arrependimento.
Depois de uma polémica com a cantora Taylor Swift nos MTV Music Awards, Ye regressou triunfante com o álbum "My Beautiful Dark Twisted Fantasy" em 2010. A este seguiram-se "Yeezus" em 2013, "The Life of Pablo" em 2016, "Ye" em 2018, "Jesus is King" em 2019, "Donda" em 2021 e "Donda 2" em 2022. Lançou também os álbuns colaborativos "Watch The Throne", com Jay-Z em 2011, e "Kids See Ghosts" com Kid Cudi em 2018.
A música de Ye recebeu várias críticas positivas e vários prémios, incluindo um total de 22 Grammys.