Luaty Beirão esteve na 87.º edição da Feira do Livro, em Lisboa, a promover "Sou Eu Mais Livre", que editou em novembro do ano passado.
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O ativista Luaty Beirão é uma das vozes mais sonantes da luta pela liberdade. Faz parte do grupo de 16 homens que foram detidos a 20 de junho de 2015, em Luanda, por terem criticado publicamente o regime de José Eduardo dos Santos e por estarem a ler o livro "Da Ditadura à Democracia". Sobre a sua detenção, Luaty afirmou esta tarde ao JN que foi tudo feito com o intuito de silenciar os ativistas, mas que o regime não estava à espera que a sua luta tivesse tanta expressão e tanto impacto.
"A minha prisão foi um processo programado. A própria detenção envolveu imensas pessoas e foi algo vindo de uma alta esfera. Depois do erro acho que foi uma questão de orgulho e infantilidade. A prepotência fê-los acreditar que íamos ceder", disse Luaty.
A luta de Luaty Beirão ficou conhecida devido à greve de fome que decidiu fazer e que travou durante 36 dias. A sua história correu mundo e o ativista recebeu apoio daqueles que consideraram a sua prisão uma demonstração de força gratuita do regime angolano. "Não há intimidação que funcione", afirmou o ativista.
Quando foi libertado, a 29 de junho de 2916, trouxe consigo as memórias da sua estada na prisão. A experiência culminou no livro "Sou Eu Mais Livre". Luaty considera-se hoje uma referência para os mais jovens e reconhece que "as pessoas estão realmente a falar mais".
A situação em Luanda é já "ligeiramente diferente" e Luaty considera que estão a ser dados os primeiros passos no caminho da liberdade e da democracia plena. "Começou a haver a inversão do medo. Este é o primeiro passo. As pessoas começam a desafiar os seus próprios temores".
No entanto, o processo de evolução na política e na sociedade ainda precisa de grandes esforços nesse sentido. "O método de conter as vozes dissonantes não vai durar para sempre. Seria um grande passo se este regime admitisse que não está a conseguir um regime transparente".
Sobre uma carreira enquanto político, Beirão, de 35 anos, não demonstra qualquer interesse. "Tenho sempre uma expectativa baixa em relação aos políticos. Prefiro continuar a dar as minhas ideias e continuar a ser eu", concluiu o ativista luso-angolano.