Arranca hoje VII Congresso de Editores de Meios de Comunicação Social da União Europeia e América Latina, que decorre em Madrid e Bruxelas até dia 21. A Inteligência Artificial (IA), a precariedade, a falta de investimento e os novos modelos de negócio. Tudo isso e muito mais em debate com a ajuda de 23 especialistas.
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Alberto Barciela, comunicador, escritor, poeta e empresário, preside ao evento e aceitou falar com o "Jornal de Notícias" a poucas horas do arranque dos trabalhos. Em Portugal, os média acabaram de organizar a primeira greve geral do setor em mais de 40 anos e Barciela não quis deixar de abordar o assunto, alertando a sociedade para a importância do jornalismo. As ameaças e constrangimentos são inegáveis e inescapáveis, mas, como afirma o próprio, os protagonistas "sabem que devem fazer mudanças", embora muitas vezes o setor não seja capaz de alcançar a "velocidade de cruzeiro exigida".
A aparente ameaça da IA sobre o futuro da profissão será um dos assuntos "quentes" do programa. "O jornalismo beneficiará e também será prejudicado em alguns aspetos pela IA. A profissão terá que se adaptar às possibilidades e adotar precauções graduais. A atitude vigilante, a proatividade, a combinação de objetivos setoriais, a capacidade de análise em tempo real são tarefas que nos esperam se quisermos optar pelo que é benéfico e evitar, na medida do possível, o que ameaça a liberdade, o exercício da informação, da opinião e da crítica a partir de uma perspetiva humana. As decisões colegiais, profissionais e sinceras são parte do que deve ser nossa contribuição leal para a convivência democrática num mundo completamente diferente, imprevisível", sublinha Alberto Barciela.
A Europa acaba de publicar a primeira Lei de IA. O Regulamento estabelece uma série de obrigações para a IA, dependendo de seus riscos potenciais e seu nível de impacto. "Ninguém sabe qual será o alcance final nem a capacidade de crescimento exponencial que isso representará em todas as áreas, ninguém quer renunciar às suas vantagens, mas todos advertem que isso trará perigos", sublinha Barciela.
A propósito da greve geral de jornalistas portugueses, Alberto Barciela mostrou-se solidário. Eles [jornalistas] exerceram um direito fundamental ao atender a uma situação que consideraram necessária para reivindicar melhorias nas condições de trabalho e salariais. Ninguém chega ao extremo por causas injustificadas, e não foi apenas um, foram dezenas de meios que fizeram greve", afirmou o presidente do congresso.
As redes sociais vieram concorrer com o jornalismo, criando confusão entre o que é informação verificada e amadora? "Os editores e jornalistas submetem-se a uma deontologia, a manuais de estilo, mantêm-se fiéis às linhas editoriais, cruzam várias fontes e, se possível, respondem juridicamente ou retificam, até mesmo refletindo conjuntamente em congressos. Isso diferencia-nos de quem escreve nas redes sociais", afirma Alberto Barciela.
Em suma, o jornalista tem características muito próprias, dificilmente replicáveis por qualquer cidadão que use as redes sociais ou qualquer sistema de IA. "Falamos aos humanos de uma perspetiva humana e, nisso, sabemos que as máquinas, os corruptores, os criadores de verdades aparentes ou os vendedores de sucessos ocasionais nunca nos vencerão. Temos que preservar a nossa vocação para continuar informando, formando e entretendo, seja qual for o suporte futuro do nosso trabalho, mas não devemos render-nos nem renunciar à mais bela profissão do mundo, à nossa vocação e ao desejo de servir", remata Alberto Barciela.