Cientistas concluíram que as alterações climáticas podem levar a um aumento da exposição a ondas de calor que ultrapassem o limite que a humanidade consegue aguentar de forma prolongas. A investigação refere que as zonas mais quentes do planeta já ultrapassaram esse valor, mas por breves períodos.
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Nos últimos anos, muito se tem falado sobre as consequências das alterações climáticas para a sobrevivência da humanidade. Nesse sentido, um estudo da Academia de Ciências Norte-americana consegiu perceber que se, não se travar o aquecimento global, o calor e a humidade podem ultrapassar um valor que torne alguns locais inabitáveis, avança o diário "The Washington Post".
O estudo publicado, esta segunda-feira, na revista da academia responsável pela investigação refere que Lahore, no Paquistão, considerada a cidade mais poluída do mundo, é uma espécie de "epicentro de doenças ligadas às mudanças climáticas" e corre o risco de enfrentar o limite da sobrevivência durante duas a três semanas por ano, a partir de meados do século. No pior cenário, em que a temperatura global atinja um aumento de quatro graus celsius, os cientistas acreditam que esse cenário pode prolongar-se por milhares de horas por ano, o que se traduz em vários meses.
Para Al Hudaydah, no Iémen, as previsão são ainda mais alarmantes. A região situada no Mar Vermelho pode vir a sofrer ondas de calor e humidade durante um ou dois meses e, no cenário mais catastrófico, podem prolongar-se por mais de 100 dias.
As previsões para Deli, na Índia, são de 39 horas por dia no melhor cenário e 557 no pior. Já para a capital Vietnamita, Hanói, os cientistas apontam para cerca de 38 horas na perspetiva mais otimista e 602 na mais alarmante.
Damã, na Arábia Saudita, arrisca entre 223 e 805 horas acima do limite de sobrevivência por ano, o Dubai entre 118 e 784 horas e Bandar Abbas, no Irão, pode enfrentar entre 175 e 958 horas acima do limiar de sobrevivência.
Mas quem pensa que o fenómeno fica apenas circunscrito a essas regiões está enganado, uma vez que algumas previsões alertam para a possibilidade da Europa e o Norte da América passarem o limiar de sobrevivência várias vezes por década.
Há zonas que já atingiram o limite por breves períodos de tempo
Este estudo revela também que os pontos mais altos do planeta já atingiram o limite de sobrevivência ainda que por curtos períodos. Apesar disso, o cientista responsavel pela investigação, Daniel Vecelio, ressalva que isso "não significa que esses locais sejam inabitáveis para humanos", mas adverte que "podem vir a ser, se essas alterações climáticas significarem longos períodos sem tréguas do calor intenso e da humidade".
Para o especialista, o problema é precisamente quando o fenómeno se acumula por semanas ou meses, porque é aí que "se torna demasiado quente para os humanos".
Este trabalho corrobora a informação do estudo realizado pela mesma equipa e divulgado, em setembro, pela revista Science que alertava para o facto de 200 estações metereológicas terem registado valores superior ao limiar até ao qual a humanidade consegue sobreviver.
O cientista que comandou este estudo, Carter Powis, citado pelo "The Washington Post", defende que na Europa pode haver "mortes em massa". Isto porque, segundo o trabalho desenvolvido por estes especialistas, quando o tal limiar de temperatura é atingido o corpo humano deixa de conseguir libertar esse calor e a temperatura interna aumenta descontroladamente. Em circunstâncias normais, o organismo consegue libertar-se do calor através do suor.
Durante vários anos a comunidade científica pensava que o limiar era de 35 graus, um valor que tem em conta a conjugação do calor e da humidade, mas no ano passado os investigadores da Universidade da Pensilvânia descobriram que esse valor é de apenas 31 graus para "jovens saudáveis que não estejam habituados" a temperaturas tão elevadas.
A temperatura pela qual se define o limiar de sobrevivência não é a temperatura atmosférica, mas a temperatura de termómetro húmido (WBT - Wet Bulb Temperature, em inglês), que combina a temperatura do ar seco com a humidade. Se colocar um pano molhado sobre o termómetro, a água evaporada do pano arrefece o aparelho e esta temperatura mais baixa é a temperatura de termómetro húmido. Este valor nunca será maior do que a temperatura seca, mas quanto mais quente e saturado de água estiver o ar, mais próximo dessa temperatura vai estar a temperatura WBT.
Os cientistas, citados pelo jornal norte-americano, explicam que a exposição a essas temperaturas durante várias horas "pode causar doenças ou a morte se as pessoas não consegirem beber água ou refugiar-se em locais frescos". Se o aumento da temperatura global do planeta atingir os 4 graus celsius, mais do dobro dos 1,5 da era pré-industrial, algumas zonas da Ásia, do Médio Oriente e de África vão sofrer "condições extremas".
Se acordo de Paris for cumprido é possivel evitar o pior cenário
Os especialistas garantem que se a meta de um aumento de 1,5 graus defendida no acordo de Paris, em 2015, assinado pelos líderes da comunidade internacional, for cumprida ainda é possivel evitar os piores cenários previstos para regiões como o Paquistão e o Iémen.
Neste contexto, Daniel Vecelio defende que estes dados demonstram que se "pode salvar inúmeras vidas se forem tomadas medidas para limitar a subida da temperatura global".
O cientista paquistanês, Fahhad Saeed, membro da associação alemã Climate Analytics, realça que estes dados demonstram que as população de países menos desenvolvidos vão ser as mais afetadas e são as que menos poluíram.