Universidade do Minho deteta microplásticos em rios do Norte considerados saudáveis
Um estudo liderado pelo Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências da UMinho revela "a presença preocupante de microplásticos em organismos de rios do Norte de Portugal, mesmo em zonas ecologicamente preservadas".
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A investigação, que se insere no mapeamento em curso na Europa, saiu na revista científica “Hydrobiologia” e teve a parceria do Laboratório da Paisagem, do Município de Guimarães e da ARNET - Rede de Investigação Aquática.
Em comunicado, a Universidade adianta que “os cientistas avaliaram 15 troços dos rios Ave, Selho e Vizela, em maio e junho de 2023, em especial larvas de mosquito (Chironomidae) e vermes (Oligochaeta) nos sedimentos e que são fulcrais na cadeia alimentar fluvial”.
“Detetámos microplásticos em todos os organismos das amostras, independentemente da qualidade ecológica do rio", indica o primeiro autor do estudo, Giorgio Pace, para quem “este resultado sugere que a presença de microplásticos não está exclusivamente associada à ocupação urbana do solo, pode também resultar de atividades agrícolas, industriais e domésticas, além de falhas na gestão de resíduos”.
E sublinha: “Nem os ecossistemas mais preservados escapam à poluição invisível. Ou seja, começa a atingir cursos de água com diversidade biológica, níveis adequados de oxigénio, sem poluentes tóxicos em excesso e capazes de se autorregular. Além do impacto físico, os microplásticos são veículos de poluentes perigosos, como metais pesados, que podem acumular-se nos organismos e propagar-se na cadeia alimentar.”
Para o cientista, "compreender os mecanismos de acumulação e eliminação de microplásticos é essencial para avaliar os riscos ecotoxicológicos e desenvolver medidas eficazes".
O estudo recomenda “uma abordagem integrada que combine ações preventivas – como a redução de plásticos descartáveis e a regulação de produtos que libertam microplásticos – com medidas corretivas, como barreiras físicas e melhorias no tratamento de efluentes. Entre as estratégias de prevenção, destaca-se também a melhoria da gestão de resíduos sólidos e o controlo de efluentes urbanos e industriais”.
O estudo decorreu no âmbito dos projetos REACTivar (com apoio do Município de Guimarães), BluePoint (com fundos comunitários do Interreg) e RIPARIANET (com verbas da FCT, da rede Biodiversa+ e da Comissão Europeia), que está a analisar rios de Itália, Espanha, Alemanha, Suécia e Portugal, permitindo comparar padrões de contaminação a larga escala.
Milhões de plásticos ameaçam rios e oceanos
Cerca de 11 milhões de toneladas de plástico entram anualmente nos ecossistemas aquáticos e, se houver ações significativas globais, essa quantidade pode aumentar 50% até 2040, alerta o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A mensagem foi destacada para o Dia Mundial do Ambiente, 5 de junho, este ano subordinado ao tema “Combater a poluição plástica”. A campanha deste dia propõe medidas como reduzir o consumo e recusar plásticos descartáveis, repensar o seu uso quotidiano e reciclar corretamente.