Na estrada e de bandeira em punho: milhares de manifestantes cortaram o trânsito na Baixa do Porto
Mais de mil manifestantes cortaram, ao início da noite desta quinta-feira, o trânsito de três das principais ruas da Baixa do Porto. E, com a maior parte do dispositivo policial do Comando do Porto concentrado no Estádio do Dragão, onde há mesma hora o F. C. Porto jogava para a Liga dos Campeões, o bloqueio das artérias Sá da Bandeira, Passos Manuel e Dr. Magalhães Lemos prolongou-se por várias horas, obrigando carros e motos a inverter a marcha e a circular em sentido contrário.
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Antes, quando ainda passavam poucos minutos das19 horas, João Pateiro e os dois filhos, gémeos de 6 anos, ajudavam a engrossar a multidão que se juntou na Praça D. João I para apoiar a causa palestiana. "É importante sensibilizá-los para as injustiças e para a privação que algumas crianças, como as palestianas, sofrem", explicou, ao JN.
Ao lado, mais e menos novos cantavam incentivados por uma voz saída de um megafone: "Israel assassino, viva o povo palestino". As palmas e uma colher a bater numa panela marcavam o ritmo e as bandeiras da Palestina desfraldadas no ar davam cor ao evento.
Uma deles era empunhada por Isabel Castro, que participava, pela primeira vez, numa manifestação. Foi levada por Clara Ribeiro, uma amiga das redes sociais, igualmente crítica dos atos de Israel em Gaza. "Já fazia o que podia online, partilhando posts para tentar sensibilizar outras pessoas para esta causa, porque acho que é inimaginável, no século XXI, estar a acontecer o que está a acontecer na Palestina", refere.
Clara Ribeiro preferiu um cartaz à bandeira. "Palestina livre" era a mensagem escrita na cartolina. "Faço parte de alguns coletivos e movimentos civis, que têm desenvolvido algumas iniciativas em prol da libertação da Palestina. Perguntei-lhe se ela quereria vir e respondeu-me que sim, que vinha", recorda.
As duas amigas não contavam com "tanta gente" na manifestação organizada no Porto e, depois do que viram, passaram a acreditar no poder dos números. "Se formos muitos, conseguimos pressionar o nosso Governo", afirmou Clara Ribeiro.
Ambas também não sabiam que, pelas 20 horas, algumas dezenas de manifestantes, com o Teatro Rivoli ao lado, iam caminhar até à Rua Dr. Magalhães Lemos e cortar o trânsito que se dirigia à Avenida dos Aliados. Porém, foi o que sucedeu.
Rapidamente, e perante a indiferença dos turistas sentados nas esplanadas dos restaurantes da Rua do Bonjardim, as filas de automóveis cresceram. Nenhuma viatura andava e a PSP resolveu intervir. Menos de dez polícias - e eram todos os que estavam no local - formaram um cordão que tentou tirar os protestantes da faixa de rodagem. Contudo, perante o avolumar de manifestantes, depressa desistiram.
"Sai do passeio, vem para o nosso meio", pedia-se e todos os que estavam na Praça D. João I juntaram-se à caminhada que levou a manifestação para o cruzamento da Rua Sá da Bandeira com a de Passos Manuel.
Sem reforços, os cerca de dez polícias acompanharam à distância uma manifestação, que obrigou os automobilistas a inverter a marcha e a circular em sentido proibido para chegar ao destino. Naquele cruzamento ninguém passava e os autocarros foram-se acumulando uns atrás dos outros.
"O povo unido jamais será vencido", garantiam os manifestantes que, com o passar do tempo, foram sendo cada vez menos. Mesmo com a perda progressiva de gente, pelas 22 horas, o trânsito em redor da Praça D. João I ainda não fluía.
"Estamos a apoiar a luta do povo palestiniano, a sua autodeterminação contra as humilhações que têm sofrido", justificava Manuel Espírito Santo que, aos 71 anos, não arredava pé do protesto.