Valores foram apreendidos na Operação Espelho. Ministério Público acusou 22 arguidos de crimes.
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O Ministério Público (MP) de Évora apreendeu quase 20 milhões de euros, em saldos bancários e dinheiro vivo, aos 22 arguidos que acaba de acusar de tráfico de pessoas, entre outros crimes, no processo Operação Espelho, relacionado com a exploração de imigrantes no distrito de Beja, entre 2019 e 2023.
Cinco portugueses e 17 estrangeiros, entre 28 e 57 anos, foram acusados, cada um deles, de associação criminosa, auxílio à imigração ilegal e branqueamento de capitais, além de tráfico de pessoas. Foram imputados os mesmos crimes a 13 empresas de alguns dos suspeitos. Duas contabilistas, de Cuba e Ferreira do Alentejo, vão responder, também, por falsificação de documentos.
Segundo o MP, foram exploradas pessoas aliciadas na Moldávia, Roménia, Ucrânia, Índia, Senegal, Nepal, Timor-Leste e Paquistão. Eram postas a trabalhar no distrito de Beja, vivendo em condições desumanas, muitos delas sem receberem nada, ou valores diminutos, entre 20 e 200 euros por mês, pelo trabalho prestado. Além de se apropriarem do salário dos trabalhadores, os suspeitos tê-los-ão explorado nas rendas de casa.
A acusação, a que o JN teve acesso, diz que era a arguida romena Ileana Mezo, de 45 anos, que liderava o grupo. Era trata da por "engenheira", "chefe" ou "patroa".
A atividade dos arguidos, entre 2019 e 2023, gerou uma fortuna que o MP quantifica em 19.767.141 euros, apreendidos em contas bancárias e numerário, mas também em carros, casas e outros bens.
Nas buscas às residências dos suspeitos, a PJ apreendeu a dez deles 94.353 euros em numerário. As duas contabilistas tinham 29 mil euros em notas. Em
casa da chefe da rede, foram também apreendidos diversos objetos em ouro e esmeraldas no valor de 64 mil euros.
Confiscados à ordem do processo estão 39 veículos automóveis utilizados pelos arguidos a título pessoal ou para transportar os trabalhadores, três motociclos e uma moto-quatro, ainda sem matrícula e cinco prédios urbanos.
Supremo Tribunal nega habeas corpus a cabecilhas
O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) recusou o requerimento de habeas corpus apresentado pelos dois principais arguidos, Ileana Mezo e o marido, Zoltan Mezo, do processo da Operação Espelho, levada a cabo pela a Unidade Nacional de Con tra Terrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária (PJ).
Os advogados dos dois arguidos sustentaram que se tinha "esgotado o prazo de prisão preventiva", que havia sido decretada em 24 de novembro de 2023 e que até 25 do mesmo mês do ano passado os arguidos "não tinham conhecimento da acusação do Ministério Público".
Os juízes do STJ recusaram o pedido argumentando que "não se patenteia qualquer quadro de prisão ilegal", justificando que em 21 de novembro de 2024, "foi deduzida acusação contra os arguidos", que foram notificados três dias depois.
Recursos sem efeito
Marido e mulher já apresentaram diversos recursos no Tribunal da Relação de Lisboa e no Constitucional, sustentando a ilegalidade da sua prisão preventiva, mas todos foram sempre recusados.
Da Operação Espelho, levada a cabo pela Unidade Nacional de Contra Terrorismo, da PJ, resultou a identificação de cerca de meia centena de vítimas exploradas no trabalho agrícola.
O MP pede que, caso os arguidos venham a ser condenados, nove sejam expulsos de território nacional e que as 13 empresas arguidas sejam impedidas de exercer qualquer atividade.
Medidas
Oito estão presos
Em 2023, a PJ fez buscas e deteve 22 pessoas, entre Évora e Cuba. Oito estão em prisão preventiva.
Sem passaportes
Os restantes arguidos ficaram obrigados a apre sentar-se às autoridades três vezes por semana. Também ficaram sem passaportes e proibidos de sair do país.