Abusos sexuais: "Não há silêncio que proteja as crianças. Se suspeita, denuncie"
Abusos de menores têm consequências para vítimas, família e sociedade em geral.
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Os abusos sexuais de menores têm repercussões a vários níveis e em várias dimensões. Quanto mais cedo se detetarem e travarem, mais hipóteses há de serem superados. Porém, para isso, é preciso uma intervenção estruturada em todo o país, avisa a gestora da rede CARE, da APAV.
Na maior parte das vezes, as famílias não estão preparadas, especialmente quando o abusador é um deles. “Não há meio-termo. Umas entram em negação e não agem. Algumas fazem um processo de luto, principalmente quando quem abusa era o garante da família. E outras assumem uma hipervigilância, trancam e isolam as crianças”, descreve Carla Ferreira. Para a sociedade, as notícias de abusos trazem um sentimento de insegurança e, na ausência de intervenção, de permissividade. Ainda há os custos financeiros com o processo judicial e cuidados médicos e sociais.
As consequências para as vítimas assumem todo um leque de situações, em termos físicos e psicológicos. E as sequelas vão acompanhá-las para a vida. “Podemos achar que as situações são apagadas, mas isso não acontece. Não é possível apagar. É possível integrar. A chave está no momento em que se deteta e se trava. É completamente diferente a intervenção numa criança que foi vítima uma vez ou numa que foi dez ou cem”, explica a especialista.
Agir rapidamente
Para isso, é importante estar atento aos sinais (ler ficha ao lado) e agir rapidamente, principalmente quando a criança pede ajuda. Mas ainda há quem nada faça por ter medo de problemas.
“Não há silêncio que proteja as crianças. O silêncio só vai dar corpo à continuação da situação e permitir que as condições se enraízem e se tornem permanentes na vida da criança”, alerta Carla Ferreira. “Se suspeitar – a lei diz que basta suspeitar – de violência contra uma criança, só tem de enviar um email anónimo ou pegar no telefone e denunciar. As autoridades vão fazer o seu trabalho e não terá de fazer mais nada”, complementa.
Em termos institucionais, “infelizmente, ainda estamos muito longe do ideal”. “Há escolas e unidades de saúde que proativamente solicitam ações de capacitação, mas há outras que não o fazem. Não há uma intervenção estruturada e uniforme por todo o país”, lamenta a especialista da APAV.
Sinais para ficar alerta
Há vários indícios que permitem suspeitar que uma criança está a ser vítima de abusos sexuais.
Queixas físicas
Lesões nos órgãos sexuais. Dores abdominais, incontinência e infeções urinárias. Sangramento e corrimento. Disfunções alimentares.
Isolamento e insónias
Dificuldades em dormir: insónias ou hipersono. Pesadelos recorrentes. Isolamento e desinteresse pela escola, amigos e atividades que gostava.
Raiva e autolesões
Agressividade e raiva para com os outros ou para consigo própria. Magoar-se de propósito.
Medo e tristeza
Ansiedade ou medo constante, baixa autoestima e tristeza profunda. Medo de estar sozinha, de um local, de uma pessoa ou grupo.
Sexualização
Comportamentos sexualizados precoces para a idade. Masturbação compulsiva. Usar vocabulário ou fazer desenhos sexualizados explícitos. Reproduzir com os pares alguns dos abusos experienciados, sem ter noção do seu impacto.