Durante mais de dois meses, quatro adolescentes, residentes no Bairro Cerco do Porto, no Porto, usaram uma pistola e violência para realizar dezenas de furtos a estafetas da Glovo. O clima de medo era tanto que os estafetas recusaram entregar encomendas naquela zona da cidade.
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O líder do grupo tem 17 anos e foi, nesta terça-feira, detido pela Polícia Judiciária (PJ). Os três comparsas, todos com 15 anos, foram sujeitos a processos tutelares educativos.
Já em outubro do ano passado, os elementos de um outro grupo, também residente no Bairro Cerco do Porto, foram detidos pela PJ do Porto. Encomendavam comida e álcool e acabavam a agredir e a roubar os estafetas que iam ao bairro entregar o pedido.
O método foi copiado por outros habitantes do Cerco. Ainda com menos idade do que os primeiros jovens a serem detidos, os rapazes usavam a plataforma Glovo para encomendar pizzas, hambúrgueres e outros produtos alimentares, pedindo que estes fossem entregues nas imediações do Bairro do Cerco. Nunca esperavam pelo estafeta na exata morada indicada, mas mantinham-se por perto e quando o alvo chegava ao local faziam-lhe sinal para que fosse ao seu encontro.
Em seguida, relataram as vítimas, um dos adolescentes apontava uma arma ao estafeta, enquanto os restantes davam sapatadas e murros no seu capacete. Amedrontada, a vítima dava tudo o tinha em seu poder, inclusive o dinheiro resultante de entregas anteriores que, na maioria dos casos, rondava os 50 euros.
Estão todos em liberdade
Entre 11 de abril e 5 de maio, a PJ registou três casos, mas os inspetores estão convencidos que ocorreram dezenas de furtos num período mais alargado que, no entanto, não foram denunciados por vítimas que, por serem estrangeiras, permaneciam ilegalmente em Portugal ou tinham dificuldade em comunicar com a Polícia.
Mesmo não denunciando às forças de segurança, as vítimas alertaram, por grupos de WhatsApp, os colegas para o perigo de trabalhar junto ao Bairro do Cerco e a maioria dos trabalhadores da Glovo recusou-se, durante meses, a efetuar entregas naquela zona da cidade. O clima de medo só terminou quando a PSP reforçou o policiamento naquele local.
O adolescente de 17 anos foi o único a ser detido no âmbito da investigação levada a cabo pela PJ e foi libertado após ter sido interrogado pelo juiz. Está, agora, obrigado a apresentações semanais na esquadra. Os comparsas, por terem apenas 15 anos, não foram detidos e enfrentam um processo tutelar educativo. Os quatro jovens têm um percurso escolar problemático e estavam já referenciados por crimes como agressões e furtos.