Advogada de Fernando Saul diz que distúrbios foram "golpe de mestre" de Villas-Boas
No segundo dia das alegações finais da operação Pretoriano, Cristiana Carvalho, advogada do ex-funcionário do F. C. Porto Fernando Saul, considerou que o processo redundou numa “mão cheia de nada”.
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Quanto ao seu cliente, considerou que foi “injustamente arrastado para este processo”. A advogada lembrou que “o próprio ofendido, em momento anterior, inocentou expressamente Fernando Saul”. É “uma prova esmagadora que, por si só, deveria fazer cair a tese acusatória”, concluiu.
Fernando Saul escreveu num grupo que tinha agredido Henrique Ramos, mas tal foi “uma fanfarronice digital”. “É verdade que o tenha escrito, é mentira que o tenha agredido”, afirmou Cristiana Carvalho, criticando o Ministério Público por, na véspera, ter vindo com a nova tese de que Saul “não é só um dos mentores mas também o responsável por vigiar quem se manifestava contra Pinto da Costa. A cada dia uma nova tese”.
A advogada reforçou a ideia de que a candidatura de Villas-Boas seria uma “afronta” para o seu cliente porque este prometera nunca se candidatar contra Pinto da Costa. E uma “afronta” por promover dezenas de páginas a apelar à mobilização dos adeptos e a filmarem tudo. Villas-Boas ganhou as eleições ali, considerou Cristiana Carvalho. “Foi um golpe de mestre, mas não foi um golpe dos arguidos”.
Cristiana Carvalho criticou a postura “de gargalhada e gozo” das advogadas do F. C. Porto, mesmo perante lágrimas. “Ainda não perceberam que o feitiço se vira contra o feiticeiro, mas o mais importante é ganhar a todo o custo. Parece que ainda não aprenderam o que os últimos tempos tendem a ensinar. Não vale tudo!”.
O pedido de penas de prisão para todos os arguidos “é chocante”, pois não houve “nenhuma prova dos factos, nenhum elemento que prove uma adesão a um plano criminoso”, afirmou Cristiana Carvalho. “Se existisse medo, não tinham ido milhares de pessoas”, alegou.
Testemunhas recompensadas
“Passar à frente não é um crime, se não, o atual presidente estava ali sentado. Já um polícia agredir um adepto na fila é crime, mas o autor não está ali sentado porque o agredido desistiu da queixa por medo, mas o Ministério Público é cego”, descreveu a advogada. Também o modo como as testemunhas foram convocadas para o processo, por convites e chamadas “como se fosse uma festa”, algumas delas só em julho. “Isto sim foi um plano para encadear testemunhas, amigos da direção contra Fernando Madureira, o cacique da Pretoriana. Mais do que uma dessas testemunhas foram recompensadas com lugares nos órgãos sociais do clube. Quem foi arregimentado para este processo foram as testemunhas”, acusou.
“Não estive no mesmo julgamento que a senhora procuradora que fez aquelas alegações”, confessou Cristiana Carvalho. A advogada considerou “estranho” o depoimento do subintendente Denis, que se recusou a dizer onde estava e que, de modo “desonesto” mencionou um incêndio ao seu carro que aconteceu um ano antes, na Póvoa de Varzim, e por causa de um processo de tráfico de droga.
“Não houve qualquer plano. Se o objetivo era intimidar para criar confusão para aprovar os estatutos; criando confusão, não se ia aprovar nada. O móbil é ridículo”, considerou a advogada. “Que raio de plano tão mal gerido é que precisava que se roubassem cinco pulseiras?”, questionou. “Nunca houve prova, porque nunca houve crime. A verdade exige a absolvição, a dignidade exige a absolvição total e incondicional do arguido Saul”, concluiu a advogada.
Mariana Espírito Santo, advogada de Carlos Nunes, “Jamaica”, frisou que o seu cliente foi sozinho à AG, como sócio e não como elemento dos Super Dragões. “Não houve rigorosamente uma testemunha que tenha apontado Carlos Nunes como autor de um ato criminoso. Pelo contrário, referiram que o viram calmo e numa postura tranquila. Em nenhum momento aparece a ameaçar, a coagir ou a agredir”, frisou a advogada, reforçando a ausência de qualquer elemento probatório contra o seu arguido, pedindo por isso a sua absolvição.
“Era precisa uma fábula”
O advogado de Hugo Loureiro, “Fanfas”, fez questão de dar a sua opinião sobre o processo: “É uma manta de retalho que o MP andou a juntar para uma fábula de acusação”. Porque, “efetivamente, andou aqui a ziguezaguear”, disse Francisco Duarte, lembrando que no primeiro interrogatório haveria um elemento dos órgãos sociais que teria montado o plano, mas que, depois, no processo “não foi feito nada”.
“Uma justiça forte com os fracos e fraca com os fortes. Se achava que essa pessoa era o autor moral do plano, não teve a coragem de ir atrás dela e ir buscar prova contra ela”, criticou, lembrando que teria sido Henrique Ramos a dizer que era tudo um plano de Adelino Caldeira, concretizado por Fernando Saul.
Depois, na acusação espantou-se ao ver que não ouviram o diretor de segurança, não ouviram o presidente da assembleia-geral. “O MP parece um daqueles casais em que uma parte comete infidelidade e a outra está muito apaixonada e, apesar de as amigas alertarem, prefere não ver, não saber”, comparou, acusando-o de “violar o dever de objetividade”.
Para Francisco Duarte, o MP "tomou uma posição e foi com ela até ao fim. Só isso explica que estejamos aqui a discutir uma agressão que ninguém viu, com lesões indocumentadas”. O advogado contestou a rábula da ata e de Lourenço Pinto que disse que mudou de local já sabendo que não ia haver votação. “Para o MP, uns mobilizavam e outros arregimentavam. Não. Arregimentavam todos”, sustentou.
“Será que todo o mal que aconteceu naquela assembleia veio destas 12 pessoas?”, questionou, lembrando que ninguém conseguiu apontar quem terá atirado a garrafa. “Foi uma questão eleitoral que esteve subjacente aqui”. “Era precisa uma fábula”, justificou Francisco Duarte.