Fernando Madureira e mais 11 arguidos da Pretoriano conhecem sentença esta tarde
Após 22 sessões de julgamento, a juíza Ana Dias Costa anunciará ao início da tarde, no Tribunal de São João Novo, a sentença da Operação Pretoriano. O ex-líder dos Super Dragões, a mulher e mais dez arguidos estão acusados, em coautoria, de mais de 30 crimes de coação e ofensa à integridade física, entre outros.
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Em causa estão distúrbios ocorridos na Assembleia-Geral Extraordinária (AGE) do F. C. Porto, de novembro de 2023. Segundo a acusação, os 12 arguidos, liderados por Fernando Madureira, planearam e instigaram "um clima de intimidação e medo", através de agressões e coação, para que fosse aprovada uma proposta de revisão estatutária, benéfica para a reeleição da direção liderada por Pinto da Costa e para a manutenção dos privilégios de que beneficiavam. Os tumultos e violência levaram à suspensão da AGE e à posterior retirada das propostas.
"Penas mais graves" para casal Madureira
Nas alegações finais, o Ministério Público (MP) pediu penas superiores a cinco anos de prisão - logo, efetivas - para Fernando Madureira, Sandra Madureira, Hugo Carneiro (Polaco), Vítor Catão, Vìtor Aleixo e o filho Vítor Bruno. O casal Madureira, os "líderes", devia ser punido com "penas mais graves". Já os restantes oito arguidos devem ser sujeitos a penas suspensas, considerou a procuradora Susana Catarino.
Também a advogada do F. C. Porto, que se constituiu assistente, considerou que a acusação ficou "intensamente demonstrada e pecou por defeito; podia ser por muitos mais crimes de intimidação, ameaças e agressões". Sofia Ribeiro Branco concordou com as penas indicadas pelo MP e realçou a necessidade de assegurar a paz público, com a aplicação de penas efetivas e a interdição do acesso a recintos desportivos.
Não se provou "premeditação, plano ou ordens"
Por sua vez, os advogados de defesa sustentaram que o MP não conseguiu provar qualquer "premeditação, plano ou ordens" para que ocorressem ameaças ou agressões na AGE. Vários dos causídicos criticaram este processo, considerando que foi o culminar de uma estratégia que visava beneficiar André Villas-Boas nas eleições do clube.
"A verdade nunca interessou" e "transformaram Fernando Madureira num alvo a abater", acusou Gonçalo Cerejeira Namora, advogado do ex-líder da claque.
Para os mandatários dos arguidos, as duas candidaturas, de Villas-Boas e Pinto da Costa, mobilizaram os seus apoiantes a ir à AGE e votar de acordo com os interesses de cada uma. Houve insultos, altercações e agressões, que não se deveram a qualquer plano, mas, sim, ao momento quente que se vivia e à forma apaixonada como os adeptos sentem o clube.
Madureira preso há um ano e meio
A 31 de janeiro de 2024, a PSP do Porto pôs no terreno a Operação Pretoriano. Foram detidos 12 suspeitos, incluindo Fernando Madureira, o então líder dos Super Dragões, a mulher, Sandra, e outras figuras da claque azul e branca, bem como o oficial de ligação aos adeptos, Fernando Saul. "Macaco" e "Polaco" ficaram em prisão preventiva. Vítor Catão ficou em prisão domiciliária. Em julho, "Polaco" saiu em liberdade, sujeito a apresentações periódicas.
Em agosto do ano passado, o MP acusou os 12 arguidos de 31 crimes: coação agravada (19), ofensa à integridade física (7), instigação, arremesso de objetos e atentado à liberdade de informação (3). Um deles, foi ainda acusado de posse de arma proibida. Vários arguidos requereram a instrução, mas, em dezembro, uma juíza do Tribunal de Instrução Criminal do Porto subscreveu "na íntegra" a acusação do MP e enviou todos os arguidos para julgamento.
Julgamento arrancou a 17 de março
O julgamento iniciou-se a 17 de março de 2025, no meio de um grande aparato securitário. Foi proibida a circulação de viaturas e a pessoas não residentes nas imediações do Tribunal de São João. Apenas no primeiro dia se registou um incidente, com alguns jovens a proferir ameaças a Vítor Catão, o que obrigou à sua escolta até ao parque de estacionamento.
Ao longo de 22 sessões foram ouvidas em tribunal dezenas de testemunhas, incluindo o atual presidente do F. C. Porto, André Villas-Boas. O julgamento teve de ser interrompido por três semanas devido à baixa de uma das juízas. A leitura da sentença está marcada para as 14 horas desta quarta-feira.
"Candonga" em processo à parte
O MP do Porto tem em curso outra investigação, relacionada com o F. C. Porto e a venda ilegal de bilhetes para jogos de futebol. Chama-se Operação Bilhete Dourado e incide sobre os ingressos que seriam desviados por funcionários do clube, sempre com a conivência de responsáveis da empresa do universo portista Porto Comercial.
Os bilhetes seriam entregues ao então líder dos Super Dragões, Fernando Madureira, que depois os comercializava no mercado negro. "Macaco", nada pagaria e só teria que garantir que os Super Dragões mantinham o apoio ao anterior presidente do clube Pinto da Costa.
A investigação acredita que a candonga de bilhetes continuou mesmo com Fernando Madureira na cadeia e com Sandra impedida de contactar com os elementos da claque. O negócio seria assegurado pela filha do casal, Catarina, que criou um grupo de WhatsApp para receber as encomendas.

